Conto das terças-feiras - Um passeio na Terra

Renata Pereira Maciel de Queiros, 8 de dezembro de 2020

Hoje, aqui no céu está a maior confusão. O anjinho Teresinha aprontou mais uma vez e as reclamações contra ela, começaram cedo.

— Maestrina, Teresinha abriu o portão dos ventos.

— Maestrina, tire Teresinha daqui, pois ela está me atrapalhando.

Após todas essas reclamações, Maestrina resolveu consultar o pai Celeste, que aconselhou:

— Maestrina, leve Teresinha para longe daqui, faça um passeio com ela, converse e explique que ela tem que trabalhar também.

— Mas, Senhor, leva-la para onde?

— Para a Terra!

Maestrina, que se sentia muito cansada, achou ótima ideia, estava precisando de férias. A preceptora de Teresinha foi falar a respeito com a menina, que também apreciava um passeio, correu para arrumar a sua mala e cedo rumaram para a Terra. Foram para a casa da irmã de Maestrina, a Fabestrina, uma fazenda, com muitos pássaros e peixes. A menina estava encantada com a beleza do local e ao chegar, correu logo para o riacho.

— Ah! Que lindo riacho! Como eu queria ter um desse.

A garota viu um animal estranho nadando. Assustou-se pelo seu tamanho, saiu correndo com medo. Ao avistar o caseiro, perguntou:

— Moço, o que é aquilo?

— Aquilo o quê? - perguntou o empregado.

— Aquele bicho feio ali no riacho?

— Aquilo é um rio e você viu foi um peixe. Um peixe-boi.

Chegando lá confirmaram que era realmente um peixe-boi, levando Teresinha a encher o caseiro, de perguntas:

— Para que ele serve?

— Para a gente comer, sua carne é uma delícia. Com ela fazemos a mirira, mistura da carne com a própria banha do peixe. Com suas tripas, fazemos a linguiça cabocla, respondeu o homem.

— Ele tem namorada?

— Tem, eu acho.

Com o passar das horas, Maestrina sentiu falta da menina, foi procurá-la, e então encontrou o caseiro, desconcertado e balbuciando muito, que lhe contou uma história meio doida:

— Dona Maestrina, a menina Teresinha matou o peixe-boi fêmea.

Sem acreditar no que acabara de ouvir, a senhora desmaiou. Gritaram pela irmã Fabestrina, que saiu correndo em direção ao rio. Sua preocupação era que o animal atacasse a garota. Teresinha chorava.

— O que aconteceu, Teresinha? – perguntou Fabestrina

— Eu matei o bicho.

— Como isso aconteceu?

— Apertando-o. O caseiro disse que o peixe-boi tinha namorada, que ele andava sempre ao lado dela. Fui tentar tirar o leite do peixe-vaca, como não saia, enfiei uma faca e ela morreu.

Quando Maestrina acordou do desmaio, ficou sabendo de tudo.

— Teresinha!!!

A menina, assustada pelo grito e chorando, falou:

— Antes que a senhora brigue comigo, digo que foi sem querer e nunca mais vou fazer isso.

A senhora arrumou as coisas das duas, desculpou-se e foram embora.

Mas nada mudou, tudo continuou como era antes.

— Maestrina, olha a Teresinha! Maestrina, por favor...

O pai Celeste, conformado, falou:

— Maestrina, não adianta, eu a fiz assim, ela não tem conserto.

A garota continua amada por todos, mesmo cheia de defeitos.

_______________

Nota: Editado por Gilberto C. Pereira. Texto escrito em 1983, quando Renata, minha filha, tinha apenas nove anos

Gilberto Carvalho Pereira
Enviado por Gilberto Carvalho Pereira em 08/12/2020
Código do texto: T7130654
Classificação de conteúdo: seguro