Pobre José

Quando José viu o filho de bruços na calçada, com o rosto grudado no meio fio, ele se desesperou. As esperanças de um futuro melhor tinham ido para o ralo. José que acorda todos os dias às quatro da manhã, que veste sua melhor roupa, penteia os cabelos para o lado e de estômago vazio sai para trabalhar.

O ônibus lotado, um pisão no pé. Na mão apenas uma sacola, dentro dela o uniforme do trabalho, uma banana e um pedaço de pão com mortadela, o que restara do dia anterior, a única coisa que ele vai comer o dia inteiro.

Em casa a mulher e só um filho, esse que há tempos não frequentava mais a escola. Dezesseis anos, bigode ralinho na cara, olhos tristes e vazios, sorriso inexpressivo. Ele que vivia perambulando pelas ruas do bairro periférico. Na paisagem casas de tijolos aparentes, roupas expostas em varais improvisados, crianças correndo desembestadas por ladeiras que parecem não ter fim, idosos que apoiam suas bengalas em calçadas desniveladas; tiroteio.

Que risca o céu e arrisca vidas e as tira também, sem avisar, assim, sem mais nem menos. José que de uniforme no corpo e capacete na cabeça vai pra mais um dia. O sol rachando a pele, essa ressecada, pois a empresa não fornece protetor solar. Carrinho lotado de areia, José empurra o carrinho com toda força, parece que ali ele está deixando todas as suas energias.

Finda o dia. José de barriga roncando vai embora pra casa. A rotina é a mesma da ida, um sufoco. Quando desce é um alívio. Lá de baixo vê o morro e luzes estranhas rodando numa valsa mortífera. Uma viatura da polícia tira uma fina de José, ele toma um susto. Ele não sabe ainda, mas infelizmente seu filho está morto. Um tiro certeiro na cabeça, sem dar chance pra nada.

O desespero e a agonia batem ao ver o filho morto. A poça de sangue rodeando a cabeça, igual a coroa de espinhos de Jesus Cristo. José que sai todos os dias bem cedo para trazer o pão nosso de cada dia para casa, que passa fome, sofre o dia todo e quando está perto de chegar a casa, acontece uma desgraceira dessas.

POBRE JOSÉ...FIM....

Fernando F Camargo
Enviado por Fernando F Camargo em 05/12/2020
Código do texto: T7128631
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