Luzia, um conto de Natal!

Natalícia estava animada para o Natal. Sua casa estava ornada dos mais requintados enfeites.

Naquele ano a família se reuniria em sua casa.

Fizera questão da mais linda decoração de Natal. Contara com a ajuda de uma decoradora amiga.

O jardim chamava atenção dos passantes. As cascatas de luzes multicoloridas, e a iluminação nos coqueiros fizera com que muitas pessoas parassem em frente a casa para admirar tanta beleza.

O jantar seria o mais requintado que fizera em anos. Queria tudo perfeito.

Escolhera um lindo vestido vermelho, longo. Faria sob medida para que o caimento fosse o melhor possível.

Nos últimos dias de preparativo ficava constantemente ocupada. Contudo um dia antes da véspera de Natal, ocorreu algo que desviou sua atenção da tão esperada ceia de Natal.

Avistou no supermercado uma senhora que ao passar no caixa não teve dinheiro o suficiente para pagar um quilo de feijão. Seus olhos não conseguiram se desviar da cena. Faltava um real e vinte centavos. Foi quando os olhos de Natalícia e Luzia se encontraram. Nunca vira olhos tão meigos em sua vida. Uma mistura de humildade e bondade. Em segundos Natalícia sentiu um misto de emoções. Pensou na grandiosidade de sua festa de Natal e comparou a situação de Luzia que não tinha como pagar o feijão.

Uma lágrima escorreu pelas faces de Natalícia. Seu coração acelerou. Foi em direção a Luzia e ofereceu-se para pagar o feijão. Luzia em sua singeleza agradeceu a bondade daquela alma desconhecida.

Despediram-se e Natalícia olhou para trás e viu que dona Luzia mancava. Havia uma faixa envolvendo seu tornozelo. Não podia deixá-la ir a pé. Ofereceu carona, mas Luzia se recusou, morava longe. Natalícia não aceitou a recusa e levou-a até sua casa.

Era muito modesto o lar de Luzia. Natalícia perguntou se precisava de algo. Mas Luzia não era de reclamar da vida. Era feliz a seu modo. Convidou a boa senhora para entrar. Ao que foi aceito o convite.

Natalícia observou a humildade da residência. Naquela simplicidade toda reinava o mais absoluto asseio. Mas constatou que Luzia estava em dificuldades, pois essa disse que infelizmente não podia lhe oferecer um café, mas que na horta havia hortelã e que faria um chá para a visitante. Natalícia notou o restinho de açúcar que estava no fundo da lata. E mais uma vez uma lágrima furtiva escorreu pela face. Perguntou se a dona da casa morava sozinha e ela contou que morava com o marido e que o filho casado morava em outra cidade e que não viria para o Natal porquê estava desempregado. Perguntou então se o marido dela estava empregado. Respondeu que não e que ultimamente viviam da venda dos tapetes de retalho que ela confeccionava.

Comovida Natalícia partiu. E não teve mais tempo de pensar em sua festa. Luzia agora fazia parte de seus pensamentos.

No dia seguinte, na véspera de Natal, Luzia recebeu a visita mais extraordinária que poderia ter imaginado.

Bateram a sua porta. Chegaram com uma grande encomenda. Uma enorme cesta de Natal. Luzia marejou os olhos e rogou aos céus proteção para quem estaria lhe ofertando tamanha alegria. Então surgiu à porta Natalícia que num gesto fraternal a abraçou e desejou um feliz Natal. Ambas choraram. A sua festa de Natal requintada não superava a alegria daquele momento.

Natalícia partiu e deixou claro que encontraria um emprego para o marido de Luzia e talvez até para o filho.

Luzia e o marido abriram a cesta e viram o quanto era farta. Uma hora depois Luzia partia com o marido com metade do que havia recebido. Carregavam uma pesada sacola que dividiam o peso. Pegaram dois ônibus e chegaram ao destino. Bateram a porta de um casebre e foram recebidos com muito alegria pelo senhor Gabriel, ele estava em situação difícil, teria um Natal só com um pouco de café com biscoito. E ao ver tanta fartura perguntou onde conseguiram tanta comida, tantas guloseimas. E eles contaram que foram agraciados por um anjo chamado Natalícia.

Gabriel perguntou aos amigos benfeitores se podia convidar dois outros amigos que também estavam em dificuldades e receberam um sim alegre de Luzia e o marido. Luzia assou o peru, fez a farofa, distribuiu as frutas pela mesa e até cantaram músicas natalinas.

Foi uma noite feliz.

Na casa de Natalícia havia um clima de alegria, não era só pela beleza da ceia, mas sim, muito mais pela paz em seu coração.

Kelle Marinho
Enviado por Kelle Marinho em 05/12/2020
Reeditado em 07/12/2020
Código do texto: T7128345
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