O tratamento
Esta era a terceira vez que ele se internava naquela casa de repouso. Mas, desta vez, foi por sua inteira vontade.
A casa, expressando modestamente, era na verdade um complexo bem grande, com um enorme salão de recepção no térreo, um gigantesco jardim em frente. Sendo este não muito cuidado, visto que não haviam flores nas floreiras. O balcão de atendimento ficava ao lado direito do salão, no sentido de quem entra no casarão. Após o balcão já dava para ver a escadaria que levava a um dos conjuntos de quartos, sendo ali o quarto do nosso protagonista.
Este conjunto era composto de quatro quartos, circulando a subida da escada. Não chegava a ser um segundo andar. Ou no caso do primeiro, já que a entrada é o térreo. Pois, apesar da escada, o conjunto localizava-se a meio andar de diferença, como se fosse um mezanino.
Ele chegou no casarão, passou pelo salão da recepção, subiu a escada e foi direto para o mesmo quarto que usou nas outras internações. Deixou sobre a cama alguns de seus pertences que trouxe desta vez, enquanto lembrava-se dos detalhes de sua outra internação. Suas lembranças eram tão claras que parecem se mesclar às novas experiências.
Este casarão de repouso, se assim pode ser intitulado, funcionava como um “recanto”, um "clínica de tratamento”… Onde os hóspedes eram “desintoxicados” de suas vidas conturbadas. Ficam internados sem contato algum com o mundo externo. Sem tecnologias eletrônicas, sem telefonemas, sem visitas. Ficam ali por um tempo, apenas com as atividades recomendadas pela clínica. Apesar que os efeitos benéficos eram questionáveis, já que era a terceira vez que nosso rapaz se internava ali.
Após deixar as coisas sobre a cama, e relembrar das estadias anteriores, ele desce as escadas e observa todas as pessoas que estavam no salão, quase enchendo o espaço totalmente. Eram os familiares e amigos dos demais pacientes que chegaram no mesmo dia. Muitos risos, várias pessoas conversando e se despedindo dos que iriam ficar. Algumas lágrimas, mas todos contentes, já que a clínica fará bem aos que ficariam.
Pode-se dizer que para cada hóspede havia cerca de quatro ou mais familiares.
Passando por entre as pessoas, ele se dirige para a parede em frente ao salão, feita de enormes janelas de vidro em quase toda a extensão da construção e olha para fora. Ao fazer isso volta a ter alguns devaneios, recordando de uma das outras vezes em que os familiares já estavam partindo do lado de fora do casarão, dando tchau para os que ficavam. Eram boas lembranças para ele. Mas, a atendente do balcão chama-lhe a atenção dizendo que ele não poderia ficar ali. Pois eram apenas para as despedidas dos familiares dos demais hóspedes.
Então ele se deu por si de uma triste realidade: Não havia ninguém para se despedir dele. Não havia nenhum amigo. Nenhum parente. E, apesar de o ambiente estar lotado de pessoas conversando, ele estava sozinho.