A Batalha
03/12/2020
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Fui acordado de madrugada pelo uivar alto e forte de gatos. Fui ver o que acontecia da varanda do nosso chalé, e dois gatos estavam frente a frente no gramado: o combate era iminente. Sentia-se a tensão no ar!
Um amarelo rajado; outro, o Malhadinho, um gato com o corpo preto com patas, peito e uma parte do focinho branco, por isso lhe dei esse nome. Os dois eram gatos da rua. Malhadinho adotara o nosso terreno como a sua casa. Mas o conquistei também.
Vinha ele de noite passear pelo nosso jardim e comecei a lhe dar comida. Depois, comprei um saco de ração e lhe dava todos os dias pela manhã e à noite. Mas, como todo gato de rua, era arrisco e ressabiado, não deixando que eu chegasse perto: mostrava os dentes e miava agressivamente como fazem eles quando acuados.
Pacientemente fui cevando Malhadinho, que foi pegando confiança comigo. Algumas vezes, de madrugada, o encontrava ao pé da porta da entrada de casa, pois ao ouvir o barulho do pegar no saco de ração, vinha interesseiramente miando pedindo comida. Começou assim a se enroscar nas minhas pernas e deixar que lhe acariciasse, sempre miando o safado. Da minha mulher não chegava perto. Começou a dormir embaixo de banco de madeira no deck; durante o dia, ficava embaixo do carro da minha mulher estacionado no jardim. A nossa casa era agora o seu território e o defendia com unhas e dentes.
De repente se engalfinharam e começou uma briga feroz! O amarelo conseguiu agarrar Malhadinho pelas costas como se fosse um “mata leão”, aquela chave de pescoço do judô. Debateu-se agressivamente até conseguir se soltar do golpe do intruso. Os gritos, rosnados e miados eram ensurdecedores no calmo da noite silenciosa.
Ficaram os dois parados e estáticos, rosnando baixo de forma assustadora, um mirando ao outro aguardando novo ataque.
Assistia à luta, e comecei a espantá-los, principalmente o amarelo, que foi em direção ao carro da minha mulher entrando embaixo, com Malhadinho acompanhando-o fixamente, ficando no gramado aguardando. Estavam agora mudos.
Resolvi intervir na briga, pois a barulheira foi infernal. Peguei a mangueira d’água que fica sempre engatada na torneira para regar a horta que temos, e joguei água embaixo do carro onde estava o Amarelinho.
Ele saiu calmamente em direção à rua, desafiadoramente, como que dizendo: voltarei. Malhadinho o acompanhou com os olhos e voltou-se para mim, miando como sempre.
Veio perto, mas não se enroscou ou se deixou acariciar. Talvez envergonhado por ter apanhado do outro. Mas perdendo ou não, mantivera o seu território bravamente, já que o outro fugira, com uma pequena ajuda minha...
Como premio e consolo, lhe dei um pouco de ração. Ele mereceu, e agora, estamos mais próximos. O Amarelinho não tem aparecido mais, mas o aguardamos, pois parece que a batalha ainda não terminou. Veremos.
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