Sopa de Cebola
24.05.2018
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As festas da época da faculdade eram ótimas. Quase toda semana acontecia uma na casa de alguém da turma. Algumas eram bem famosas e concorridas.
Uma delas era o Festival das Batidas na casa de uma amiga do grupo que estudava Artes Plásticas; assim como seu aniversário e as Festas à Fantasia lá também. Era ela a maior festeira.
No Festival das Batidas, o teor alcoólico resultante era altíssimo - tinham que experimentar todas mais de uma vez para eleger a melhor. E difícil votar depois de tanta batida: ficavam literalmente "batidos"
Teria naquela noite uma à Fantasia na casa da amiga. Ele não sabia como seria a sua, fantasia. Não teve dúvida - tinha a empregada que cuidava do apartamento em que morava - pegou emprestado dela um uniforme e uma peruca também. E não é que ficou muito bom. Ela o maquiou para ficar melhor! E lá foi ele fantasiado de "Tereza" - o nome dela - para a festa.
Estava muito boa e engraçada a festa - ver aquele pessoal todo vestido de tudo: sheik, lorde, toureiro, dançarina, e outros personagens caricatos. Fez sucesso a sua fantasia.
Saíram de lá bem "calibrados" e bateu a fome. Resolveram ir tomar sopa de cebola no Ceasa, o que naquela época era comum após as festas, para amenizar o porre, pois ficava aberto a noite toda.
E lá foram todos fantasiados pelas quatro da madrugada tomar a sopa.
Ele ainda vestia o uniforme e avental da Tereza, e todo maquiado.
Ao chegarem, ele desceu antes de todos do seu fusca - ou melhor, da "Medonha", apelido que dera ao carrinho, por ser "lindo de morrer" , indo em direção ao restaurante.
Estava cheio naquele horário, por incrível que pareça. Ao verem ele fantasiado indo na direção à entrada do restaurante, pararam do lado de fora deixando-o entrar só. Ficaram vendo o que aconteceria através de uma janela de vidro.
Entra, para e olha pra trás , vendo que não tinha mais ninguém com ele . Todos os clientes do restaurante olharam ele parado na entrada, estático. As pessoas não entendiam o que era aquela pessoa vestida de empregada entrando no restaurante sozinho naquele horário?
Então, de uma das mesas levantou-se um homem sorrindo, e começou a aplaudi-lo. As outras pessoas nas outras mesas começaram a assobiar, a rir , alguns o chamam de " linda" , transformando o fim de noite numa perfeita sopa. Todos lá incorporaram o espírito do grupo.
Ele assumiu seu papel, agradeceu de forma delicada e sorridente, enquanto o resto da turma entrava, alguns ainda fantasiados também, completando a equipe.
Não se intimidaram e o resto da madrugada foi uma farra na mesa fantasiada.
E a sopa, uma delicia!