Medonha
24.05.2018
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Na época de estudante de engenharia, tinha ele um "Fusca" que, de tão moderno e bonito que era, apelidara-o de "Medonha" !
Saiam ele e os amigos com a "Medonha" para todos os lados.Era o carro da turma!
Certa noite, após as aulas noturnas e de uma boa calibrada no buteco cativo junto da escola, resolveram ir comer uma pizza ou alguma coisa em restaurante que não estivesse fechando. Era tarde da noite.
Eram ele e mais três amigos tradicionais e um novato na turma - estava debutando nas saídas noturnas do grupo - era da famosa Turma A da faculdade, os estudiosos!
Foram na "Medonha" dois amigos tradicionais e o novato, no banco de trás em uma algazarra só, gritando, cantando, gargalhando e falando palavrões. O novato, ia sentado entre dois tradicionais.
Dirigia cada vez mais nervoso com aquela bagunça no carro, dizendo que não conseguia guiar direito daquele jeito.
Em determinado momento, enquanto desciam uma rua movimentada , o amigo que estava sentado bem atrás dele, colocou os dois pés no encosto do banco, pressionando-o contra o volante e consequentemente contra o para-brisa.
Seu rosto ficou encostado no vidro lateralmente, ou seja, sem enxergar nada à frente! Ele olhava para o amigo ao lado no banco do carona , não tinha como ver a frente e nem como se mexer , estava preso!
E a "Medonha", não se sabe como, ia em frente cada vez mais devagar.
Começou a gritar com todo mundo e conseguiu puxar o freio de mão parando o carro de supetão no meio da rua, um perigo!
Vários carros frearam e buzinaram sem saber o que acontecia naquele Fusca maluco parado ali.
Abre ela a porta do motorista e desce do carro xingando muito brabo, gritando em alto e bom som para os que estavam no banco de trás:
"- Deeesce um por um...! Deeesce um por um...!" - gritava raivoso, no meio da rua.
Os três se calaram na mesma hora. Estáticos, ficaram lá sentados por um momento.
Os dois tradicionais desceram, mas o debutante, porém, ficou sentado sozinho, com medo de sair do carro!
"- Deeesce você também!".
Manteve-se sentado e assustado, olhando-o sem saber o que mais poderia vir a acontecer. Os outros falaram para descer, que não ia acontecer nada.
Saiu do carro e ficou acanhado, quieto. Com medo!
Acalmou-se após saírem todos do carro. Ele deu risada pelas suas caras com o medo estampado nelas, e falou:
"- Ficaram com medo né seus merdas! Quase se borraram né! E se eu bato a "Medonha"? Íamos ficar sem carro para sair e fazer nossas bagunças, seus pentelhos" - rindo forte agora, descontraindo a situação.
Todos relaxaram e riram, voltando a animação. O novato também descontraiu, relaxou, e riu junto com todo mundo, um pouco contido ainda, ressabiado.
" -To com fome! Vamos comer né pessoal! Pizza topam? - ele disse.
" - Pizzaaaaa, vamos" - respondem. O novato não se manifestou.
Entraram de novo no carro em direção da pizzaria.
Depois do susto, a mudez logo passou e a algazarra começou novamente, mas de outra forma. Não o empurraram mais contra o para-brisa da "Medonha".
E assim, foi essa mais uma das aventuras engraçadas e perigosas da turma, pelas noites de São Paulo, após as aulas, com a "Medonha" quase sempre junto.
O novato integrou-se rapidamente ao grupo, não era mais o mesmo depois desse batismo.
Até hoje, quando se encontram, relembram essas e outras historias dos bons tempos de Faculdade, e da "Medonha", inesquecível.
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