JOHNNY FISHER

Volta e meia a nossa turma inventava um programa no litoral paranaense. Ir e ficar nas casas de nossos pais quando eles lá estavam era procedimento rotineiro, porém havia limitação no número de hóspedes por razões óbvias, então dávamos um jeito de convencê-los a emprestar por uns dias a casa a toda nossa turma, com a promessa de extremo cuidado na utilização, e de não fazer xixi fora do pinico no que dizia respeito à moral e bons costumes da época.
Em 1968, resolvemos promover um concurso de pesca na semana da Pátria, que foi pomposamente denominado “Johnny Fisher”. Três ou quatro elementos da nossa patota já possuíam carro próprio, então o transporte estava garantido. Mas, e o pouso? Também, porque meu pai e o pai do Alex cederam suas casas. Assim sendo, nos organizamos para a viagem e o concurso, programado para acontecer primeiramente em Ipanema, onde ficamos dois dias; e depois em Guaratuba, onde ficamos outros dois. Essa era a premiação: 1. Medalha de ouro para o maior peixe; 2. Medalha de prata para a maior quantidade; 3. Medalha de bronze para o segundo maior peixe.
Imaginem a farra! Os doze terríveis reunidos com o objetivo de rebaixar o nível do oceano em pelo menos meio metro, tamanha a quantidade de peixes que pretendíamos subtrair do mar...
Coisas engraçadíssimas aconteceram, tanto na praia como nas casas. Lembro-me de certa noite que o Zeco estava deitado na cama olhando pra lâmpada do teto, enquanto alguém lhe explicava que a interrupção de energia acontecia por um gesto manual, por tratar-se de uma nova e avançada tecnologia. Do lado de fora do quarto, um comparsa do primeiro estava a postos pra acionar o interruptor paralelo, assim que um sinal lhe fosse dado, tudo isso sem que o Zeco percebesse a pegadinha. Ele não só caiu, com fez questão de aprender a apagar e acender a luz daquela forma, e balançava os braços pra cima e pra baixo, e a lâmpada do teto apagando e acendendo – porque lá fora do quarto o brincalhão via seus gestos pelo espelho e imediatamente acionava o interruptor. Ele demorou uns quinze minutos até perceber que estava sendo ludibriado...hehehehe!
E o Adilson então, dentro do mar com água até a cintura, foi fisgado pelo Zaquinha que estava pescando com um molinete, sentado na areia da praia. O Zaca imaginou se tratar de um enorme robalo, e puxou a linha com toda força, enquanto o Adilson agonizava com o anzol cravado na panturrilha. Gritava de dor, e o Zaquinha achando que ele estava festejando a fisgada do peixão...hehehehe!
Muito engraçado também o que aconteceu no último dia. O Arnaldo não tinha a menor intimidade com a arte da pesca, e por uma razão subjetiva associou o tamanho da isca com a facilidade de pegar peixes grandes. Faltavam duas horas para o encerramento do campeonato, quando ele sumiu e logo depois voltou todo animado, trazendo uma dúzia de enormes camarões pistola._”Agora vocês vão ver quem é que vai pegar o maior peixe!”, exclamou otimista, e botou um daqueles camarões gigantes no anzol, achando que ia puxar um peixão de 10 kg...hehehehe! O máximo que conseguiu foi banquetear um cardume de betaras que passava por ali, e que saboreou sem grandes riscos a fina iguaria que lhe estava sendo ofertada.
Nossas pescarias aconteceram no Olho D’água de Grajaú, no Valo Fundo de Ipanema, e na praia das Caieiras e Morro do Cristo, em Guaratuba. De dia pescávamos, apetrechados com nossas linhas, varas e samburás; e à noite saíamos a cantar junto ao mar, acompanhados por nossos violões, atabaques e afoxés. Que baita programa!
 
Marco Esmanhotto
Enviado por Marco Esmanhotto em 28/11/2020
Reeditado em 28/11/2020
Código do texto: T7122551
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