A Barata!

16.05.2018

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Seu quarto na casa era o da televisão e o de hóspedes. Sua família assistia aos programas noturnos lá. Os parentes de seu pai, a maioria, que vinham para a cidade grande, dormiam no sofá ao lado da sua cama.

Começo da televisão em preto e branco com poucos canais, mas muitos programas de auditório, alguns filmes e, claro, os desenhos que ele adorava. Eram início dos anos 60.

Sua irmã, mais velha e já "semi-adolescente", adorava os filmes de mocinhos bonitos como "Bonanza", "Rota 66", "Bat Masterson", dentre outros. E os programas de auditório, principalmente o do Roberto Carlos - " uma brasa, mora!" Ele, os desenhos do: "Pernalonga", "Pepe Legal", "Manda Chuva" , principalmente.

As emissoras eram conhecidas pelo número do canal, ou seja: TV Tupi - a pioneira-canal 4; TV Record, canal 7; TV Bandeirantes, canal 13 - as primeiras, depois vieram a TV Globo, canal 5 e a TV Excelsior, canal 9. Assim era naquela época.

Estavam uma noite, ele e a irmã, seus pais haviam saído, em seu quarto assistindo à TV com a senhora que cuidava da casa, quando começaram uma guerra de travesseiros. Ele era mais forte e batia com mais força. Ela apanhou e começou a chorar, chorava muito fácil e, por isso, seu pai a apelidara de "manteiga derretida".

A senhora protegeu a irmã, dizendo que ela iria ver o que quisesse, porque ele havia sido muito bruto e a machucara. Estava toda "roxa"!

Ele não concordou, pois ela também havia batido forte nele, e não reclamara ou chorara. Nem roxo ficara!

Era dia do "Pernalonga" no canal 5 e o seu dia de assistir à TV, não o dela. Também, dia do "Bat Masterson" no canal 7 e se sentiu duplamente prejudicado, pois ela iria ver na sua vez. Não era justo. Ficou emburrado e brabo!

Saiu do quarto batendo os pés, entrou no banheiro batendo forte a porta, de raiva. Sentou no vaso, olhando para o piso sem nada ver, e ficou ali remoendo a sua injustiça. Veio, então, silenciosa em seu anda e para, com as antenas balouçantes, uma enorme barata preta e brilhante. Nojenta!

Ficou imóvel olhando-a parada ali, estática, perscrutando o que ocorria, parecendo estar esperando ele tomar uma atitude. E pensou:

- Mato essa baratona asquerosa bem "matadinha" e coloco ela nas costas da minha irmã para ver o que é bom pra tosse?.

Matou a bichona, ela ficou perfeita, não "desmilinguida" - batera com cuidado e jeito com o chinelo de dormir - pegou-a com papel higiênico e escondeu na sua mão. Voltou para o quarto da TV.

As duas pregadas na tela nem piscavam, assistindo o bendito "bunitinho". Ele sentou no sofá, ao lado da irmã, e de supetão colocou a barata pela gola do pijama pela nuca dela.

Sentindo o gelado da barata, ficou pálida de pavor, olhou para ele e disse:

-O que você colocou nas minhas costas? Está gelado! É uma barata? Socorro, ele colocou uma barata em mim!

Desesperada, ela gritou, berrou, pulou, se debateu, até que a senhora, horrorizada, conseguiu tirar a pretona das suas costas. Ele assistiu a tudo plácida e impassivelmente. Sua vingança fora "maligna"! A senhora, chocada, disse:

- Como você faz isso com sua irmã? Coitada! Não tá certo não! Vou contar tudo pro seus pais quando chegarem e vai ficar de castigo.

Ficou sem jogar futebol na rua e sem ver TV por uma semana!

Hoje, os dois irmãos relembram deste ocorrido, rindo!

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 28/11/2020
Reeditado em 28/11/2020
Código do texto: T7122417
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