O baile

16.05.2018

62

O quarto ano de engenharia civil terminava ,e mais um, ele se tornaria engenheiro. Tudo a se realizar. Estava animado, alegre. Ansioso!

No "buteco" tradicional das "cervejadas" comemorativas, bebiam a "santa" cerveja do dia, ele e os amigos, na mesa de sempre.

"- Vamos pro baile dos calouros? É hoje! " - ele disse .

"- Tem convite? " - questiona outro.

"- Não, mas vamos ver quem tem lá na entrada e arrumamos um jeito de entrar. " - replica.

- "Vambora" todo mundo pro baile? " - convoca a todos.

- "Vamboraaaaaa" - respondem.

Estavam já bem "calibrados", pagam a conta, ou melhor, penduram na que tinham no bar - bebiam quase todas as noites lá e tinham crédito - aproveitaram esse crédito para comprar garrafas de conhaque "Dreher", com o qual fariam "vira-vira" no caminho para o baile. Seria em clube tradicional da cidade que fazia esse evento em quase todos os anos.

Saindo do bar, encontram outro do grupo que diz:

"- Tô com convite pro baile hoje, vamos? Vai ter show de MPB!"

"- Opa! Estávamos mesmo esperando encontrar quem tivesse convite. Salvou a pátria! Toma um gole de conhaque pra comemorar! " - responde ele. Foram.

Chegaram e caminharam na direção da entrada do baile. Seguranças faziam a checagem de quem tinha ou não convite.

As pessoas estavam bem vestidas, homens de termo e gravata, mulheres de vestidos de festa, um luxo só!

Eles, como estiveram o dia todo - com "roupa de briga"!

Combinaram entrar com o mesmo convite, um de cada vez: entrava um com o convite e depois vinha perto do grupo e passava pela cerca divisória o mesmo convite para outro entrar. Estava uma bagunça a checagem e foi fácil. Todos entraram.

O salão estava lotado de mesas, com as famílias dos calouros sentados: pais, mães, irmãos, avós, namorados - todos com a pompa e circunstância que a ocasião requeria.

Música de banda desconhecida tocava, pessoas dançavam, entretendo até a hora do esperado show.

Acabaram as garrafas de conhaque. Todos estavam "calibrados", bem "altos", alegres e risonhos. Em êxtase.

Resolveram dançar também no salão, em pares de homens, sob os olhares de reprovação dos demais.

Então, surge no meio do salão e da dança, uma "palmeirinha" que pululava no meio da multidão, por cima das cabeças das pessoas! Cômica a cena.

Alguém a pegara de algum vaso do salão, pela falta de companhia ou par.

"- Vamos subir no palco quando o show de MPB começar e fazer um "striptease", o grupo todo. Topam? " - propõe ele a todos.

"- Vamboraaaaaa tirar a roupa pessoaaal!" - respondem animados.

Caminham em direção à lateral do palco para subirem. O show iria começar logo, com cantora famosa e violonista compositor, muito famoso também, contratados pelo Centro Acadêmico da escola.

O palco era alto, cerca de um metro e sessenta e não seria fácil subir nele. Mesmo ele, com mais de um e oitenta de altura, teria dificuldades. Os baixinhos então, não conseguiriam. Era para poucos!

Estavam em fila indiana, ele na frente, com os amigos e um mais baixo logo atrás dele, a espera da hora.

Entram os artistas, ela meio cambaleante - eram famosas suas bebedeiras antes dos seus shows, como a do violonista.

Começam a cantar.

Ele sobe no palco pelo canto.

O amigo baixinho não consegue, mas tenta segurando-se no pedestal da torre de som com os alto-falantes, que quase tomba, gerando tumulto.

Ficou só no palco!

A cantora o vê e olha inquisitiva para o violonista, não entendendo o que ocorria.

O baile para!

Atônitos com a cena, a multidão muda o observa agora como a atração principal.

Ela para de cantar.

Os amigos da turma que não subiram, agora em frente ao palco, começam a assobiar e bater palmas, gritando:

" - Uhuuuuuu ,ti-ra, ti-ra, ti-ra"- cadenciando com palmas!

Ele vai em direção a ela, para em sua frente e começa e tirar o casaco em compasso com as palmas dos amigos!

A multidão observa incrédula.

Os amigos deliram com a cena e berram: " lindooo", " gostosooo", "tira tudoooo".

Ele desafivela o cinto da calça e ela fala ao microfone:

"- Se você não descer já, eu não canto mais! " - joga o microfone no banco e vai para o camarim.

O violonista assiste a cena com um pequeno sorriso, parecia estar gostando da situação, mas também se retira.

Ele pula do palco para junto dos amigos.

Alguns parentes dos calouros não gostaram da brincadeira e começaram um empurra-empurra, queriam briga, mas os ânimos se acalmaram, a banda anterior entrou novamente, começou a tocar e todos ficaram a espera do retorno dos artistas calibrados.

Não voltaram mais!

No dia seguinte ele foi o assunto e a "atração do dia" na faculdade. Todos souberam do que fizera e não acreditaram.

Foram "bebemorar" no buteco e os amigos pagaram-lhe "brejas" pela façanha.

Veio um com a notícia de que o Centro Acadêmico iria processá-lo pelo prejuízo que causara!

Todos se rebelaram. Iriam ao "CA" protestar, pois a cantora nem bem começara a cantar e não voltara como prometera, assim que ele pulara. Não era justo!

Por esse fato, o clube não mais faria bailes da escola!

Muitos anos depois, auditando em equipe uma empresa de engenharia - atuava como auditor de certificadora para a petroleira estatal- um dos engenheiros da construtora o achou conhecido e perguntou-lhe durante o almoço de trabalho:

"- Acho que te conheço! Não me é estranho. Onde estudou? "

"- FAAP" - responde.

"- Eu também! Que ano se formou? "

"- 1979."

"- Eu em 1978!" - disse, olhando-o com curiosidade e atenção, procurando na memória saber quem ele era.

"- Lembrei! Foi você que acabou com o baile de calouros de 78! Fez "strip-tease" no palco! Inesquecível!" - diz todo feliz por relembrar dele e do fato hilário!

A equipe entreolhou-se, riu e alguém falou:

"- Ah! Vai ter que contar essa história todinha pra nós! "

E contou, com a ajuda do engenheiro auditado, a memorável história, verídica.

Bons tempos de Faculdade foram aqueles.

https://blog-do-cera.webnode.com/

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 25/11/2020
Código do texto: T7120241
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.