O JOVEM E SUA SOBERBA

O jovem rapaz, nos seus dezenove anos, com as suas consideráveis virtudes, não escapuliu dos seus momentos de arrogância e exibicionismo.

Muito ciente do seu preparo não se furtava em exibir as suas habilidades.

Já houvera passado por poucas e boas, sempre salvo pela sua competência, em nenhum momento se deu conta de que eram avisos importantes. Não, não era por acaso que situações de alto risco, quando em vez lhe surgia exigindo dele a perícia que tinha ao conduzir um automóvel.

Naquela tarde não foi diferente, talvez o último dos avisos sem uma consequência maior.

Querendo assustar um companheiro carona, ele desceu aquela avenida de mão dupla, na máxima velocidade que conseguiu, já em uma parte de subida no embalo que vinha, em uma fração de segundo conseguiu ver uma menina de uns sete anos descer correndo para cruzar a avenida, passando por trás de um ônibus parado em um ponto no sentido contrario. Num reflexo milagroso acionou os freios. O veículo arrastou no asfalto por vário metros, ele pode ver a menina cruzar a frente do carro numa distância menor que um metro, talvez.

O carona deu um forte grito que dá a impressão de que ainda ecoa pelo universo a fora.

O susto foi enorme mas o rapaz acabou colocando o feliz resultado na conta de sua grande competência. Ignorou mais uma vez aquela oportunidade, que poderia ser a sua última chance para se emendar.

O dia da mudança chegou.

Recém casados foram para o litoral, no retorno à tarde, já bem perto de deixar a rodovia, ouviu o grito de sua companheira, se distraíra e o tempo que teve não foi o suficiente, o transito estava parado, o carro freado deixou logas marcas de pneus no asfalto, mas a colisão aconteceu. Ele pôde ver no banco de traz do veículo que atingiu, uma criança ser jogada para cima.

Teve sim uma sorte abençoada, no veículo atingido ninguém se feriu, apenas prejuízos materiais.

No próprio veículo contou com a sorte de trabalhar e conhecer bem sobre manutenção veicular, pois por nunca ter deixado que as borrachas dos vidros ressecassem, o vidro dianteiro saiu facilmente com a cabeçada de sua esposa, indo cair inteiro no chão asfáltico, e ela, em razão de não ter encontrado resistência na soltura do vidro, sofreu uma leve e superficial lesão na testa.

Ele foi o mais atingido, teve ferimentos nas duas pernas, mas sem consequências além das cicatrizes permanentes. Foi atingido na parte psicológica, pois viajava bastante e passou a ter muito medo de dirigir nas rodovias. Medo que levou mais de dois anos para serem superados.

Ele nunca soube explicar pra si mesmo, mas em sua cabeça lhe foi perguntado: Está bom assim ou precisa mais?

JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 23/11/2020
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