Fugidinha
04.05.2018
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Já quase nos seus dezoito anos, faltava um mês, guiava muito bem desde os treze e namorava moça moradora do outro lado da cidade. Era longe. O primeiro amor juvenil!
Encontravam-se somente nos finais de semana, seu pai o levava à casa dela.
Namoro sério, comprometido, que eles não apoiavam. Muito jovem era para quase noivo ser. A conhecera na praia em de férias verão , no seu caminho para o mar ficava ela, sentada na passagem, que por acaso do destino aconteceu, a percebeu um dia ao voltar da água. Bonita, cabelos castanhos aloirados, olhos mel, sorriso cativante trocaram. Enamorou-se dela!
Ficaram alguns dias assim, ele passava, ela olhava, sorriam. Até que uma tarde ficaram os dois sós até o por do sol, sentados a distancia de seus olhares. Decidiu vencer sua timidez e foi até ela. Eram tímidos, os dois. Começou capengante o falar, com risos forçados, olhares disfarçados, cabeças abaixando, pés desenhando a areia, e assim engatando nos seus pontos comuns, vencendo a barreira da vergonha, olhares mais firmes e fixos, carinhosos, sedutores, de paixão. Enamoraram-se ali. Exultantes, se despediram felizes!
Saíram na mesma noite para um sorvete na companhia das primas dela - "as velas" de companhia. Passearam pela cálida noite fresca de verão e veio o primeiro beijo, roubado.
E assim começou.
Uma noite seus pais saíram para jantar com amigos, deixando o carro na garagem. Uma tentação!
Era cedo, oito horas ainda e calculou que poderia pegar o veículo, ir até lá, dar um beijo nela e voltar antes de voltarem. Não tinha ainda a habilitação. Era impetuoso e gostava de correr riscos, ligou o carro e foi fazer surpresa para a sua donzela juvenil.
Normalmente o trânsito era tranquilo naquele horário da noite, mas o caminho era difícil, complicado, seria sua primeira vez. Perdeu-se, demorou mais que o programado, mas chegou.
Parou o carrão na frente da casa dela - um "Galaxie" - e buzinou.
Ela olhou pela janela da sala e saiu esbaforida, sorrindo preocupada perguntando:
- Que surpresa! Seu pai deixou você vir de carro?
- Não! Peguei escondido - eles saíram com amigos para jantar e deixaram o carro em casa e dei uma "fugidinha" para te dar um beijo e tchau! - responde.
- Que perigo! Podia ser parado em blitz da polícia e ter o carro preso! - disse a mãe que saiu da casa também ouvindo a conversa.
- Volte já pra sua casa e conte para seus pais o que fez! - disse ela com voz firme, preocupada com as consequências dessa ação.
Deram um beijo e ela sussurrou carinhosa ao pé do ouvido abraçada:
- Adorei a surpresa, seu "loquinho"! - sorrindo maliciosa e sedutora.
Ligou o carro e voltou para a sua casa calculando pelo horário que poderia chegar antes das onze da noite, horário costumeiro da volta dos pais. Demorou da mesma forma da ida, não sabia direito o caminho.
Chega, abre o portão da garagem; a da entrada da casa entreaberta : chegaram antes! "Estou frito, se prepare para bronca e castigo!" - disse para si.
Entrou na sala, seu pai sentado no sofá olha e pergunta:
- Onde você foi? - sua voz era firme, mas branda, nem forte ou raivosa.
- Fui ver a namorada.
- Lá longe! Do outro lado da cidade! Que loucura, podia ser pego em batida da polícia, prenderiam o carro e eu seria responsabilizado! Você não tem carta ainda, falta um mês só! Não faça mais isso!
Ele cabisbaixo e quieto, culpado da ação irresponsável, escutava sem reação.
- Por que não me pediu? Não faça as coisas "às escondidas", sou seu amigo e confio em você. Sou seu Pai!
Ficou desarmado. Não esperava que ele fosse compreensivo e camarada. Fora seu amigo mesmo!
Estava se emancipando pelo visto da atitude do Pai. Não era mais criança, agora.
Toca o telefone, ele olha para o pai, sabia que era a namorada ligando para saber se chegara bem.
- Atenda, deve ser ela preocupada. - disse-lhe o pai.
- É, deve ser sim!
- Oi querido, chegou bem, deu tudo certo com seus pais?
- Sim, mas chegaram antes, meu pai conversou comigo sem maiores "consequências", só me chamou a atenção.
- Que bom.
- Sim.
- E...adorei a surpresa, mesmo sendo perigosa. Maluquinho!
- É, e meio rebelde né.
- Beijo e até o fim de semana, te vejo né?
- Sim, claro.
- Beijo querida!
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