DE "ESPINHELA CAÍDA"
Ele a procurou.Queria conversar.
Era uma visita quase rotineira, não fosse a inquietação em saber se estava tudo certo.
De aparência franzina e caminhar lento, sentou-se calmamente e com olhos ainda brilhantes, tirou o chapéu de couro surrado, e estendeu-lhe a mão.
-Bom dia, "moça"! Oia, não se preocupa não, tô bem. "Mode o que" tenho uma dorzinha na "pá", mas posso me demorar não!Tenho que voltar ao trabaio!
Só queria saber se é a tar da "espinhela caída"! Dei uma "emperrada"!
Ela fez o de praxe, e ele muito acanhado, retrucou:
Oia, vai olhar "as partes' não, ô moça! No meu tempo tinha disso não!
Ela o acalmou.
-Vou olhar nadinha não seu FLORISVALDO, é só a espinhela mesmo...e o senhor tem todo direito desse mundo de emperrar a tal da espinhela!
Mas oia , ô moça!- ainda tenho muito trabaio nessa vida!
-Mas seu Florisvaldo, com setenta anos pode dar uma paradinha só para poder sarar, pode não?
-Setenta que nada, ô moça! Noventa semana que vem!
Não era possível! Devia haver algum engano de documentação-pensou.
-Tá bom seu Florisvaldo, apenas um remedinho e nada de serviço pesado, certo?
-Oia, ô moça...vixi santa!- assento tijolo lá nos prédio.Sou pedreiro, e dos bom, moça!
-Mas seu Florisvaldo, isso não é possível! É pesado...DEMAIS!
-É serviço pesado não...é pois? Só uns tijolinho...costumei já, moça...
FIcou perplexa. Era um exemplo para MUITAS vidas!
Levantou sofregamente a espinhela da cadeira, recolocou o chapéu, e lá se foi o seu Florisvaldo, assentar os seus tijolinhos de vida, daquela sua impressionante construção...apesar da espinhela caída...
Porque viver...é só querer...
-Até quarquer dia...moça...
(Verídico, NOME FICTÍCIO.)