Amor letrado - BVIW
Desafio da semana: a carta
Por falar em carta, achei incrível Franz Kafka consolar a menina do parque, a Elsi, com as cartas de sua boneca viajante. No imaginário de Kafka, a boneca contava histórias de suas viagens pelo mundo afora... Isso consolava Elsi, que seguramente aprendeu uma bela lição: o amor deve ser livre! Se a boneca estava feliz, mesmo longe dela, deveria ficar igualmente feliz. Kafka também quer ensinar Elsi a enfrentar as perdas e trabalhar o luto: "tudo que você ama, você eventualmente perderá, mas, no fim, o amor retornará de uma forma diferente." Essa foi a última carta que estava dentro de outra boneca. É uma bela lição!
Menos filosóficas, mas carregadas de sentimento, foram as cartas que escrevíamos ou que recebíamos das mãos dos carteiros, no século passado. As cartas dos namorados! Que delícia! Elas demoravam a chegar no destino e custavam a bater nas nossas portas... Era um tempo de espera. Quando chegavam, corríamos pra nossas camas, ajeitávamos as almofadas e pulávamos nela pra degustar a saborosa carta! Atravessávamos o papel para ficar com nossos namorados, nesse momento raro e precioso! Até mesmo Erasmo Carlos compôs a canção: "Escrevo-te essas mal traçadas linhas, meu amor"... Foi um tempo de encantamento e ilusão!
Bem, o tempo deu muitas voltas no relógio, muitas mesmo. Acabou que a mocinha tornou-se escritora (ou sempre foi?). Por causa disso, tenho usado os Correios para mandar livros e, para receber também. O dia que recebo um presente assim, fico nas nuvens! Como é bom sermos abraçadas pelas letras!