O vestido de poá

Maria Isabel sempre foi uma moça muito vaidosa. Gostava de roupas novas. Ia sempre ao cinema bem arrumada. E quando não dava para ter um vestido novo, ia revezando-os no guarda-roupa para que na semana seguinte não repetisse o mesmo da semana anterior.

Naquele dia, a mãe estava atarefada com os afazeres domésticos. Ela tentava falar com a mãe, mas em dia de faxina era quase impossível. O que ela tinha de vaidade com a roupa, a mãe tinha com a casa. O piso devia ficar brilhando. Os móveis de madeira também eram encerados. As colchas e as roupas de cama eram trocadas a cada três dias. Até o fogão de lenha era encerado toda semana. A vizinhança e as comadres admiravam tamanha disposição e capricho de dona Mariquinha. E ainda as panelas da casa eram areadas frequentemente. Os alumínios eram expostos na prateleira da cozinha como se fossem artigo de decoração.

Mas Maria Isabel não estava na idade de tais cuidados. Preferia passar o tempo caprichando na própria aparência. Os cabelos, as unhas, a pele tudo era cuidado com esmero. No entanto, a mãe queria contar com a ajuda das filhas, mesmo tendo uma ajudante. O serviço era muito. E toda sexta-feira era feita a faxina pesada.

A moça faz várias tentativas para que a mãe a ouça. E acompanha o ir e vir da dona da casa para que consiga pedir algo.

– Mãe, preciso falar com a senhora.

– Agora não, Maria Isabel, não vê que estou ocupada?

– Mas mãe é muito importante !

– Então diga logo !

– Eu preciso fazer um vestido novo.

A mãe para e fixa os olhos na filha.

– Outro? No mês passado você fez três vestidos.

– Ora mamãe, esse é diferente. Eu não tenho nenhum vestido de poá ainda.

– Ora essa, você não tem necessidade de um vestido de poá.

– Mas claro que tenho. É moda, a senhora não sabe? Minhas amigas todas tem um vestido de poá.

– As despesas da casa só tem aumentado, mas vou ver com seu pai se um vestido novo não vai apertar o orçamento.

– Ah, eu sabia que eu tenho a melhor mãe do mundo.

– Sei!

Maria Isabel se apressa para sair quando a mãe a chama de volta.

– Ei, aonde você vai?

– Vou na casa da Belinha.

– Ah, mas agora sou eu que quero te fazer um pedido importante.

– O quê?

– Me dê uma mão aqui. Preciso passar o escovão nessa sala. O piso precisa ficar impecável.

– Mas mãe, o piso está ótimo!

– Não está não!

– E pra quê a senhora quer um piso tão luzidio.

– Porquê é moda.