"Indiana"

06.04.2018

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Seu nome era "Indiana Jones", carrancudo de dentes salientes, olhos negros e fixos, quieto e soturno. Um "boxer" de pelo curto caramelo que virou somente "Indiana".

Seus filhos imploraram por muito tempo para terem um cachorro. Moravam em uma casa grande com quintal e gramado espaçosos. Mas haveria regras de convivência para tê-lo: cuidá-lo dando ração, banho e passeio. E o principal, "catar os cocôs" que fizesse pelos jardins. Eram dois, um em cima, menor e outro embaixo, maior. Os meninos concordaram, é claro!

"Indiana" chegou um dia, novinho, dócil, uma gracinha como todo filhote é. Meigo, estabanado e lambedor de tudo e de todos com sua baba densa, gosmenta e branca. Era seu jeito de dar carinho. Encantou a todos.

Os meninos cuidavam dele, ou melhor, não cuidavam como o combinado. A pior parte, "catar os cocôs" não faziam sem ter uma discussão. Ficou acertado que se sortearia quem ficaria com qual jardim no início da semana e por toda ela. E o medo e desgosto deles de ficar com o dos fundos da casa, o maior, e consequentemente com mais coletas. Era difícil, brigavam, não aceitavam o resultado, queriam repetir o sorteio. Sorteio era sorteio, sem mudança! Tinham que cumprir as regras acertadas. Respeitá-las era a forma de educá-los.

"Indiana" crescia. Eram muito companheiros os três. Fazia festa, pulava nos meninos e os derrubava algumas vezes pela sua força. Iam com ele passear pelas ruas do bairro; ele os arrastava, era cômico.

E roía muitas coisas, as que eram suas e as da casa, o que lhe aparecesse pela frente. E ao ficar sozinho piorava. A solidão deixava-o ansioso e incontrolável, atacando os arbustos, fazendo buracos na grama, derrubando latas de lixo . Era castigado nestas situações.

Então, em um fim de semana em que fora à praia ver os meninos e a esposa, ao voltar, chegando tarde da noite e abrindo o portão da garagem, os faróis do carro iluminaram a sua moto com o banco todo comido por ele!

A motocicleta era a sua paixão!

Indiana não veio lhe fazer festa como de costume, sabia que tinha feito coisa errada.

Ficou histérico, colérico e o "xingando". Ele encolhido em um canto amedrontado, choramingava baixinho. Entrou com o carro na garagem, fechou o portão, pegou um jornal que havia trazido e lhe deu alguns petelecos dizendo com força e agressividade para que nunca mais fizesse aquilo, mas não o acertou. Rápido fugiu para o jardim dos fundos da casa e se escondeu atrás de um arbusto. Ficou ali por um bom tempo.

Ficou com remorso. Horas depois da bronca foi ver como estava ele, sê ainda escondido. Falou com carinho, que veio alegre e lambedor abanando seu rabicho cortado. Tinha passado seu medo. Voltou a ser o "Indiana" de sempre.

Entendeu a ação dele, pois ficar sozinho, longe de quem se gosta pode ser insuportável.

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 04/11/2020
Reeditado em 04/11/2020
Código do texto: T7103846
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