“MAS, SÓ ISSO?”
04.04.2018
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Nós brasileiros somos otimistas por natureza. Acreditamos na sorte de qualquer forma, que ela vá nos sorrir algum dia e a procuramos. Fazemos mandingas, temos amuletos, crendices, manias e tudo o mais. É Cultural.
Aceitamos leitura de cartas, da mão, jogo de búzios, "macumba", usar a mesma camisa, a mesma cueca, começar o dia com pé direito, enfim, é inesgotável a relação do que fazemos para que ela apareça: a sorte.
Tem ainda os "santos" de todos os tipos para os quais rezamos para que ela venha, mais sonhos com animais, datas ou placas de carro. Tudo isso para, na maioria das vezes, ganhar na loteria e ficar podre de rico da noite para o dia.
Também tenho minhas crendices e superstições e, claro, quero ser milionário. Mas não acredito em previsões - fiz uma vez um mapa astral com uma amiga e o resultado não me convenceu, exceto que não seria milionário, mas que sempre teria o suficiente para viver. Hoje vivo assim, apesar de achar que poderia ter um pouco mais. Mas não posso me queixar.
Uma das crendices, ou coincidência, é de encontrar com frequência dinheiro, moedas e notas na rua, praia ou nos mais inesperados lugares. Esses achados me são como amuletos de sorte e os guardo.
Outro dia, subindo uma duna na ida para a praia, onde moro, encontro em seu topo uma nota de cinco reais me esperando! Sorte ou coincidência de estar em lugar e hora certa? Eis a questão. Sou mais da coincidência, mas por superstição a mantenho comigo para que dê sorte.
Então, seguindo a história, jogo de vez em quando na loteria e já ganhei algumas vezes quantias mínimas.
Em uma dessas premiações da sorte havia jogado na Mega Sena acumulada, aposta única de seis números, sonhando em me tornar milionário. Deixei de conferir o resultado, pois dizia eu que "dinheiro fácil é difícil" de se ganhar. Mas dias depois, passando em frente a uma lotérica, entrei e falei com a moça do caixa:
- Bom dia, tudo bem? Veja, por favor, se eu sou o novo milionário. Quem sabe, hein?
- Quem sabe, né! - respondeu ela sorrindo.
Passa o recibo pelo leitor e demora um pouco para responder. Eu ali ansioso para saber, pois achei por pressentimento que tinha ganhado algum valor.
- Ganhou sim!- respondeu ela.
- Ganhei?
- Não a mega, mas a quadra. Deu sorte, heim!
- Quanto?
- Quinhentos reais. Tá bom né, jogou seis e ganhou quinhentos. Lucro bom, né!
Eu sorrio feliz e exultante, pois havia ganhado na mega. Mesmo não sendo o prêmio total, dei sorte sim!
Recebi o valor em dinheiro e fui para casa. Chego na hora do almoço e minha mãe está sentada à mesa. Sento e lhe digo:
- Acredita que ganhei na mega sena, mãe?
- É mesmo! Não acredito, verdade? Sortudo você hein! Quanto, quanto foi? Um dinheirão né, estamos ricos? -toda eufórica e excitada pela notícia, já imaginando poder fazer suas viagens de que tanto gostava e não podia. Sonhava agora com seu filho milionário.
- Mãe, ganhei quinhentos reais!
Ela desabou da sua alegria e excitação. Me olha decepcionada, desapontada e triste e diz frustrada:
- MAS, SÓ ISSO?
-Pois é . Só isso ! Podia ser mais, mas não tive tanta sorte assim. Mas tá bom, melhor que não ter ganhado nada, não é?
Para animá-la um pouco após sua frustração, dei-lhe duas notas de R$ 50,00 para guardar e dar sorte; uma para a moça que trabalhava para ela . Disse para não gastarem, pois eram notas da sorte! Dei também para os meus dois filhos duas notas para cada um com a mesma condição.
O resto do prêmio guardei por um bom tempo, mas com as necessidades do dia a dia se foram, não restando nenhuma. Continuo jogando para ver se ganho o prêmio total.
Quem sabe ainda tiro a sorte grande!
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