“Faça um pedido!”

01.04.2018

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Deitados na relva úmida do pasto, junto à casa da sede da fazenda, admiravam o céu sobre colchonetes e fogueira que fizeram para esquentar e espantar os insetos. Estavam ele e os dois filhos pequenos.

Observavam as estrelas maravilhados por sua luminosidade e brilho. Era noite sem luar, escura ficando a visão espetacular do firmamento maravilhoso.

Aconchegados ao pai, os dois meninos deitados em seu peito, um de cada lado, aninhavam-se como gatos. Uma delícia o contato entre eles, bem juntinhos, o amor visceral entre pai e filhos.

O pai apontava os planetas, com seu colorido característico, que não brilhavam como as estrelas - Mercúrio avermelhado, Vênus azulado...

As estrelas caminhavam na cauda brilhante da via láctea como diamantes. Sentiam-se pequenos diante de tanta imensidão - minúsculos e insignificantes ante tanta grandeza.

Os pequenos olhavam maravilhados e questionavam:

- Pai, por que tem céu? E estrelas? Tem gente morando nelas? Por que não tem estrada pra lua? - as mais desconcertantes perguntas o deixava sem o que responder.

Então propôs a eles:

- Vamos procurar a estrela cadente, de rabinho vermelho, e quando a virem façam um pedido que será atendido.

- O que é estrela cadente, pai? - perguntou sonolento e quase dormindo o mais novo.

- É um pedaço bem pequeno, "pequenininho", como um pedrinha das estrelas que caem na terra e faz aquele rabo vermelho como um risco.

- Pode pedir o que quiser, pai? - falou o mais velho.

- Sim querido, o que quiser !

- Vou pedir o castelo do He Man, pode pai?

- Sim, claro!

Ficaram ali observando fixamente o infinito negro e coalhado de pontinhos luminosos a procura delas, e então o mais velho gritou:

- Olha pai uma lá descendo pra terra, tá correndo muito! Não tem rabo, olha pai, olha lá pai! Vou fazer o pedido ! - Sentindo a respiração dele, cadenciada e quente no seu peito. O mais novo dormia a sono solto e gostoso, esquecendo completamente do seu pedido. Talvez em seus sonhos eles se realizassem !

- É um satélite - definiu o pai.

- Droga!

Acompanharam o objeto que voava muito rápido até sumir e nada de estrela cadente aparecer.

- Elas devem estar dormindo, pai !- replicou o acordado, bocejando.

- Sim, devem sim.

Seguiram noite adentro, aparecendo novamente o satélite e o mais velho dormiu também em seu peito.

Não havia pedido algum capaz de dar essa sensação de aconchego e amor profundo. O pai pediu às estrelas que nunca acabasse esse sentimento, que fosse eterno como elas!

Amanhã voltariam a esperar as estrelas cadentes, quem sabe apareceriam para poderem fazer seus pedidos.

Seu pai já tinha feito o seu e ele se realizava todos os dias!

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 02/11/2020
Código do texto: T7102366
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