O sofá novo

Dona Dionísia escutava seu radinho de pilhas enquanto costurava. Havia poucas semanas que se mudara para a casa nova. Foram tantos anos sonhando com a casa própria, mas só agora conseguira o seu tão sonhado cantinho. Ela e o marido criaram os filhos com dificuldades, no entanto, conseguiram ver todos formados. Agora estavam todos casados. Ainda não tinha netos, mas queria muito ser avó. Gostava da casa alegre. Fazia questão que os filhos e filhas; genros e noras almoçassem na casa dela aos domingos. E como estava na arrumação pós-mudança, não os recebera ainda para o almoço de domingo. Faria então no próximo fim de semana o encontro com a família. Enquanto costurava imaginava o cardápio. Cozinhava bem. A comida era farta e todo mundo saia satisfeito. Resolveu então que faria galinhada. Mas não podia faltar o feijão-tropeiro que um dos genros adorava. A sobremesa seria goiabada com queijo. Estava de olho na goiabeira de seu quintal, faria o mais delicioso doce de sua vida. Nem acreditava, morava agora numa casa com quintal grande. Podia então ter sua horta e seu pomar. A casa não era grande, mas o quintal era bem amplo e quando compraram ficou satisfeita por ter um pomar formado.

O telefone tocou. Ela se levantou e foi até a sala atendê-lo. Ficou alguns instantes tentando entender quem era. Conversa vai, conversa vem finalmente descobriu que era uma prima que não via há muito tempo. Ficou feliz. E finalmente soube o motivo da ligação. A prima que morava distante, cerca de uns quatrocentos quilômetros, disse que viria para uma visita há tempos adiada. Ela não se lembrava mais se fizera um convite a prima ou não. Mas isso não era a questão. Faria tudo que pudesse para recebê-los muito bem. No entanto, a prima informou que não iria de visita somente ela e o marido. Perguntou se Dionísia se lembrava da prima Justina. Depois de muito puxar pela memória ela não se lembrou, mas disse que sim e pediu notícias da prima. Foi aí que veio a notícia que Justina iria também de visita com o marido. Dionísia se alegrou, mesmo não se lembrando dela.

Só quando desligou, é que se lembrou que a casa era pequena. Só dois quartos. E essa agora. Teria que se arranjar com o marido na sala mesmo. E as visitas, é claro, ficariam mais à vontade no quarto dela e no de costura. Teria que improvisar uma cama nesse quarto, falaria com um dos filhos que na certa lhe emprestariam uma cama. Arrastaria a máquina para um canto.

Voltou para a máquina de costura. Aumentou o volume do rádio. E continuou a pensar no cardápio, do almoço e do jantar, para as visitas. Assim foi até que ouviu um anúncio no rádio de um sofá-cama em promoção. Parou rapidamente de costurar e prestou atenção no anúncio. Desde que se mudara fizera planos de comprar um sofá para a sala que ainda estava só com uma tv, quatro cadeiras e dois tamboretes. Na certa o sofá-cama seria mais útil, já que agora teria visitas. Ela e o marido podiam se arranjar por uns dias na sala mesmo.

No dia seguinte foi até a loja e comprou o sofá-cama. Achou o bem confortável. Dois dias depois recebeu a entrega e ficou muito satisfeita com a compra. Arrumou tudo para as visitas e a casa ficou um primor, já que dona Dionísia tinha muito bom gosto. Tudo sempre muito limpinho e arrumado.

Na sexta feira à tarde as visitas chegaram. Todos foram bem recebidos e instalados. E como planejado, nos quartos ficaram os visitantes. Dionísia era toda amável com as primas e os maridos delas. E depois de algum tempo se lembrou de prima Justina, aquela mesma que havia lhe roubado o namorado. Talvez por isso tenha se esquecido dela. Na época ficara furiosa com tamanho atrevimento, mas depois foi tudo esquecido. Mas ela se casara com outro, não aquele da discórdia entre elas. E Dionísia se simpatizou com o marido da prima, um homem muito polido e cheio de mesuras. O marido da outra, era mais formal e introvertido. Dona Dionísia também simpatizou-se com este.

No domingo pela manhã ela fez o café, e talvez pelo cheiro do pão- de- queijo que adentrou os quartos das visitas, todos se levantaram mais cedo. Foi servido o café e depois todos foram para a sala. Cerimoniosamente, os maridos das primas esperavam que as senhoras se sentassem primeiro. Naquele dia o marido de dona Dionísia se esqueceu de voltar o encosto para a posição de sofá. Foi quando a dona da casa toda feliz não se deu conta que o sofá não estava com o encosto e conversando alegremente com as visitas, se sentou, se encostou e caiu de costas, de pernas pro ar, fazendo-a passar o maior constrangimento de sua vida. Por sorte, ninguém riu. E trataram de seguir conversa.