Quem tem pena é passarinho - BVIW
Um molambo de gente andava pela rua. Pedia a um e a outro. Pedia um trocado, um prato de comida. Pedia arrego, pedia pra vida um pouco de dignidade. Nasceu pobre, cresceu sem instrução, sem amor, sem cuidados, sem sequer pão. João Ninguém não pode escolher a sorte, ela o escolheu. Sua casa era a soleira de uma porta, o vão da rodoviária, um resto de construção. Sujo, roto, maltrapilho, desdentado… Lá ia ele pelas cidades, pelas rodovias, andando a pé ou de ônibus, cujas passagens lhes dava a Assistência Social dos municípios. Veio das terras longínquas, pra lá lhe mandavam as terras de cá. Ia, mas não ficava. Ficar pra quê? Não tinha um sobrenome, não tinha eira nem beira.
Quem cruzava com ele e tinha bom coração tinha dó. Dava uma migalha pra ele não morrer de fome. E sempre desconfiava: vai é beber! Talvez a cachaça lhe tirasse a dor de viver uma vida tão humilhante.
Pena? Quem tem pena é passarinho. Esse homem tem é um couro duro de tanto apanhar da vida! E nós? Uma carapaça que nos protege da compaixão. Porque pena é um sentimento desprovido de ação. Já a com + paixão nos tira a couraça e nos deixa nus, como vive o João Ninguém.