“O demônio”

25.03.2018

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Estava no carro novinho em folha de seu tio, sentado atrás dele que guiava e seu pai no do carona. Um fusca branco lindo, cheirinho de novo, tudo brilhando que lhe deixava embevecido e alegre. Excitado!

Adorava carros, moto, avião, tudo ligado à velocidade. Curioso, via como trocava as marchas, o ronco do motor, as freadas, sentia o correr suave pelas ruas. Nada lhe fugia! Iam para o almoço de domingo na casa do tio que passou para mostrar o carrinho e dar carona aos dois. Estava orgulhoso da sua nova aquisição, feliz, falante. Alegre!

Chegaram, entraram na garagem, os dois desceram conversando e ele ficou no carro, maravilhado com a máquina novinha, observando cada detalhe: a direção, o painel, seus botões e relógios, os pedais. Tudo!

Seu pai tivera também carros novos e o levava em seu colo para que aprendesse a guiar. Deu-lhe um brinquedo com direção e marchas muito conhecido na época - todos os meninos tinham. Guiava seu "carro" com ele nas viagens fazendo com a boca os barulhos de motor e freadas, altos. O pai lhe pedia para não gritar tanto, pois o atrapalhava na condução do veículo. Espelhava-se nele. Adorava essas viagens!

Pulou para o banco do motorista, ajeitou-se e começou a viajar no seu supercarro imaginário. Correndo nas retas e derrapando nas curvas, longe ia ele sorrindo de prazer! Mudava as marchas para frente, para trás, virava a direção e seguia na aventura, veloz. Então, a alavanca do câmbio travou, não mexia mais. "Deu frio na barriga"!

"Que aconteceu? O que fiz? Agora vou ser castigado por isso!"

Saiu bem manso e disfarçadamente do carro, foi pelo corredor lateral que passava pela porta da cozinha e seguia para os fundos, pois tinha na entrada da casa, sala em frente à garagem onde estavam os dois irmãos conversando. Poderiam vê-lo fugir! Encontrou-se com os primos e começaram a brincar.

Permaneceu bem atento a tudo o que acontecia, conversas na cozinha onde se preparava a "macarronada com braciola", às risadas, aos falatórios altos e típicos da "italianize" familiar. Então, sua tia pediu para o tio buscar algo no supermercado.

Gelou de medo e apreensão, ansioso pelo que poderia ocorrer com ele! Ao ver o tio indo para o carro, foi para os fundos da casa onde havia um jardim. Chamou os primos para jogar bola com ele, quando ouviu:

-Veja o que seu filho fez no meu carro novinho! Ficou nele depois que saímos e de tanto mexer no câmbio encavalou as marchas! Não posso andar com ele agora! Quebra-tudo em que põe a mão!

- É " o demônio" esse menino!

O pai foi ver o que aconteceu e o chamou. Todos ficaram atônitos, os primos estáticos junto ao carro, o tio transtornado e ele amedrontado pelo que fez sem nenhuma intenção, mas sabendo que punição viria.

- Você fez isso, perguntou seu pai?

O quê responder? Se sim, seria castigado; se não, não acreditariam - era óbvio para eles a sua fama de "quebra-tudo".

Ficou quieto e muito nervoso. Seu pai o encarou sabendo que havia feito o estrago e disse ao irmão:

- Conserte que eu pago. Vamos pegar meu carro em casa para ir ao mercado.

E pare ele:

- Depois conversamos em casa e não mexa em mais nada, entendeu!

Assim, essa alcunha perpetuou-se na família por vários anos de sua meninice. Esse fato o fez rememorar suas "diabices" dessa época ótima da infância com inesquecível saudade.

Foi bom ser "o demônio" !

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 25/10/2020
Código do texto: T7095756
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