Nina
Chico Zangão era um rapaz bem quisto em toda a cidade. Sempre pronto a ajudar. Não dispensava a prestar um favor. Fosse mudança, ajudar a plantar uma horta, ou uma carona em sua bicicleta... Naquele sábado de manhã estava indo a casa de dona Josefa ajudá-la a moer cana. A caminho viu Nina que caminhava com um embrulho nas mãos. Resolveu parar e cumprimentar a amiga.
– Bom dia Nina. Quer carona ?
– Brigada Chico, mas não é preciso. Vou pra casa levar esse embrulho. A mãe pediu que eu fosse a loja da dona Maria comprá um presente de casamento pra Ritinha e o Calixto.
– Eu também já comprei um presente pra eles. O que você comprou?
– Um vaso.
– Hum. Tá pesado?
– Um pouco.
– Então eu te dou carona até em casa.
– Mas eu ainda tenho que passar na venda de seu Tião.
– Então deixa que eu levo o vaso procê até sua casa. Eu entrego pra dona Nicota.
– Bem, se ocê tá oferecendo de muito bom grado, eu aceito. Mas tenha cuidado, a mãe me recomendo muitas vezes para que eu tivesse cuidado com o vaso.
– Craro que sim, dá aqui. Eu cuido bem dele.
E assim, os dois se despediram na esquina da rua de cima da venda do seu Tião.
Nina desceu a rua apressada. Queria chegar logo em casa. A mãe ralharia por ter destinado a outra pessoa a entrega do vaso. Mesmo assim confiava muito em Chico Zangão. Ele entregaria o vaso são e salvo a mãe dela.
Mas assim que ia entrar na venda do seu Tião ela ouviu o grito de Chico. E sem entender nada, o viu estatelado no chão da rua. Bicicleta prum lado e vaso pro outro.
Os olhos de Nina ficaram esbugalhados. Não podia ser, como teria ficado o vaso? Mas logicamente ela pensou logo no amigo, se havia se machucado. Ela foi logo em socorro dele, assim como muitos outros passantes.
– Chico quê foi isso? Ocê se machucou?
– Ai, meu joelho. Dói bastante.
– Deixa eu vê.
– Viche, a calça se rasgo bem no joelho. E fez um estrago nele.
– Deixa que eu ajudo, disse seu Tião que veio espiar o ocorrido.
– Mas como você foi cair desse jeito, Chico?
Mas alguém que vira o ocorrido falou na frente de Chico Zangão.
– Pois é, eu vi quando ele se virou para acenar para Maria Frô. Desceu a ladeira sem olhar para a frente, é isso que dá ficar acenando pra todo mundo na rua.
– Ora dona Zefa, não foi bem assim-- disse Chico Zangão.
– Deixa isso pra lá. Vamos ao ambulatório. Alguns homens ajudaram o Chico a chegar ao ambulatório do outro lado da rua. E Nina espichou os olhos pro embrulho, tomou os na mão e ouviu o barulho de estilhaços dentro dele. Mas fechou os olhos e torceu para que o dano não fosse grande. Foi atrás de Chico no ambulatório. Meia hora depois ele saia com o joelho enfaixado, nada grave, para alívio de Nina.
Quando estavam do lado de fora Chico se deu conta do embrulho.
– Minha nossa, Nina, e o embrulho?
– Eu acho que o vaso num tá intero não!
– Viche, e agora?
– A mãe vai se zangá. É inté capaz de adiar a festa do meu aniversário de dezenove anos. Eu tô um tempão planejando um forrobodó lá em casa.
– Então vamo até a venda e aí a gente abre o embrulho pra vê se o estrago foi grande.
E foi. Assim que viram ficaram decepcionados. O vaso virou um monte de cacos.
– E agora?
– Ih, o vaso já era.
– Tamanho rapaz, de vinte um anos, e não cuida do bem alheio – disse seu Tião a Chico.
– Mas não foi de propósito seu Tião.
– Não adianta, a mãe vai ficar chateada, era um presente tão lindo.
Mas Chico tem logo uma ideia.
– Que tal a gente colá o vaso.
– Mas será que dá certo.
– Craro que dá !
– Sei não.
– Eu faço questão de ajudar a colá.
– Não sei não, isso não vai fica bom – disse seu Tião.
Passaram duas horas colando e embrulhando novamente.
Nina foi pra casa e entregou o embrulho a mãe, que elogiou a beleza do embrulho.
No outro dia a mãe foi a casa da noiva levar o presente, a moça alegou que não iria por causa de um calo que a incomodava.
Dona Nicota voltou com o vaso na mão meia hora depois. Nina ergueu o sobrolho e na voz mais macia perguntou:
– Ué mãe, vortó com o presente ?
E a mãe com a sobrancelha arqueada que denotava seu estado de indignação disse :
– Eu pedi que comprasse um vaso e não um quebra-cabeça.