“Maria-farinha”
17.03.2018
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Vinha em sua direção com seu andar peculiar de muitas pernas, esbeltas e pontiagudas, olhos elevados e atentos como dois periscópios, focando em todas as direções. Dia quente de sol, saíam de suas tocas retirando a areia acumulada pela maré alta com suas patas para se aquecerem e se alimentarem, parando e caminhando, olhando tudo o que acontecia a sua volta.
Sua cor branco amarelada fazia com que fosse difícil acompanhá-las na areia - o disfarce que a natureza lhes deu e a agilidade, quando em perigo, de correrem desenfreadamente em "zig-zag" até o seu, ou outro, buraco na areia. Havia muitos, de vários tamanhos e tipos naquele dia na praia. Talvez por ter esta cor que seu nome popular seja "maria-farinha".
Cada vez mais perto chegava de seus pés. Estático, ficou esperando ver o que aconteceria. Ela para com os dois olhos empinados. Ficou preocupado, estava quase no seu dedão do pé direito com as suas garras de alicate - a mordida seria doída - e num leve movimento que fez, saiu ela correndo passando quase rente dele com elas levantadas ameaçadoramente. Ele se levantou agilmente da cadeira. Assustaram-se!
Parou mais à frente. Foi ele devagar atrás para saber aonde ela iria, pois viu que a cada parada limpava sua boca com as patas, sinal de que estava se alimentando, mas não sabia com o quê. Não via outras na areia, somente aquela, andando e parando.
Chegando perto, mais perto, ela inerte e então saiu desenfreadamente "zigzagueando" com sua corridinha curta até um dos buracos e se entocou. Curioso, foi até a toca e não viu nada, só o buraco fundo, vazio. Aguardou, e de repente saem ela e outra maior, a dona, expulsando-a ! Tinha invadido a casa alheia! Coisas das "marias - farinhas"!
Riu pelo o que acontecera. Ela correu furiosa por entre suas pernas - a outra ficou olhando a intrometida fugir da sua entrada. Ele saltou nos pés alternadamente para não ser mordido - ela se foi na direção oposta a que veio para outro buraco, se enterrando novamente.
Seguiu ele a fuga indo até onde sumira "maria" para ver se acontecia nova expulsão, mas pela demora, nada ocorreu - era sua a toca! Retornou para a sua cadeira e perdeu o interesse, recomeçando o livro que estava lendo. Tempos depois voltou a olhar para a toca e a viu de lado, na entrada, fazendo a faxina interna retirando areia. Deduziu que talvez tivesse tido invasão de alguma intrusa que deixou a sujeira para ela limpar. Sorriu novamente e pensou: coisas das "marias-farinhas"!
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