A SOGRA
Como muitas famílias da região nordeste de Minas, ir às praias capixabas pelo menos uma vez por ano era quase uma obrigação. Antônio e sua família, como de praxe, desciam a serra desde a cidade de Governador Valadares e aportavam em uma praia, na maioria das vezes em Nova Almeida. Nessa vila (município de Serra) as praias são tranquilas, sem muitas ondas, e muitos de seus colegas e pais dos colegas de seus filhos tinham o mesmo hábito. Era comum fazerem, na orla marítima, as mesmas reuniões familiares que faziam em sua cidade.
- Tudo pronto, Maria, para nossa viagem?
- Sim, querido, tudo organizado.
- Tem tudo que vamos precisar?
- Já colocamos na carreta reboque. Só falta sua mala, na verdade.
- Sua mãe vai mesmo com a gente?
- Sim, desta vez eu a convenci a ir.
Não era a situação preferida por Antônio para suas férias na praia, muito embora a presença da sogra lhes permitiria sair à noite para encontrar os amigos. Ela ficaria com as crianças. O problema, o grande risco, é que a saúde da velha já não andava boa, arritmias e hipertensão eram dois de seus entreveros medicamentosos.
Na manhã seguinte, bem cedo, o carro foi para a estrada, já não era muito novo, e ainda puxava a carreta a reboque. Eles tinham por hábito levar tudo que precisariam para os quinze dias de férias na praia. Assim não perderiam tempo em supermercados.
Os dias iniciais correram tranquilos. Todos levantavam cedo e corriam para a praia com a tradicional cesta de variedades culinárias que o acompanhavam. Afinal, as guloseimas compradas nos camelôs praianos eram muito caras. Às vezes a velha ficava em casa com a desculpa de poder preparar o almoço, o que lhes permitia ficarem um pouco mais na praia e curtir a quinzena ensolarada a que tinham direito anualmente. O que eles não sabiam era que a velha, mãe, sogra e avó, estava cada dia pior, não se ambientou com o clima da praia e teve um AVC. Chegaram em casa e já a encontraram morta.
Como proceder agora? Claro que deveriam levá-la de volta para Governador Valadares, a família toda gostaria de ver a defunta e enterrá-la junto com seus parentes. Mas o transporte, nesses casos, era muito caro e não teriam o dinheiro suficiente para isso. Telefonaram para o médico que a acompanhava no posto de saúde e esse afirmou:
- Ponha o corpo da velha bem acomodado na carreta e voltem para casa.
Como eu sei do problema de saúde dela já preparo o atestado de óbito.
Assim fizeram. Acomodaram a velha na carreta, doaram o restante dos mantimentos para os amigos que estavam na praia e pegaram a estrada o mais rápido possível. A viagem dura mais ou menos umas seis horas. Talvez um pouco mais desta vez, afinal todos estavam entristecidos.
Tudo organizado lá se foram eles de volta para casa. Seu carro velho puxando a carreta que levava dentro um corpo de uma falecida. Como sempre, uma parada para esticar as pernas, fazer xixi e lanchar estava prevista no meio do caminho. Escolheram um posto de gasolina amplo, com estacionamento que comportaria o carro e a carreta e entraram todos na loja de conveniência.
É aí que surge o inesperado. Quinze minutos depois saem da loja, dirigem-se ao carro, mas ...
- Maria, roubaram nossa carreta.
- Meu Deus, com a mamãe lá dentro!
- E agora?