“Natureza nada bela”
08/03/2018
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Foi com a sua mulher levar o carro para o conserto do para-brisa , que estava solto e entrava agua, em oficina longe.
O local era interessante, em avenida movimentada e comercial, com enorme poluição visual de "outdoors" que atrapalhavam a busca. Com muito custo a encontraram. Deixaram o automóvel lá, pois demoraria algumas horas para a secagem da cola - o serviço de recolocar o vidro seria rápido.
Almoçaram e ela foi ao banco, que coincidentemente, tinha agencia em frente à oficina, aproveitando o tempo ocioso para resolver um assunto pendente que só na agencia poderia. Demoraria ela.
Ele, desceu a viela nos fundos do prédio do banco que desembocava em
uma baía, encontrando com pescadores. Jogavam suas tarrafas em harmonia e hábil coordenação de lançar, recolher, arrumar e relançar. Bonito de se ver. Ficou ali observando.
Águas tranquilas, sem ondas, dia de mormaço quente, e junto deles, várias garças . Aproveitavam as sobras da pesca, com suas longas pernas finas e pescoço alto, bico comprido e agulhado, penas alvas, altivas e elegantes. Pescadoras companheiras.
Observava essa interação entre homem e animal, com certo deslumbre e admiração. A cada "tarrafada" sobravam peixes, que elas bicavam com frenesi e rapidez, os engolindo de uma só vez, sem medo ou risco, pois estavam acostumadas aos pescadores.
Começou a conversar com um deles. Disse o pescador, que elas eram espertas e recebiam o alimento de graça, sem qualquer esforço ou ação. Ficavam à espera da sua pesca. Mostra ele o camarão grande que acabara de pegar na rede. Fica Impressionado, pois não sabia que ali ,tão raso, havia camarões!
Continuam a conversar, com a garça de ouvinte atenta e no aguardo de nova "pescada". Lhe diz o "local" com seu sotaque de ilhéu:
- Elas são espertas e cruéis. Outro dia uma fisgou um pardal, devia estar faminta, a pesca estava fraca. O levou longe. Corremos atrás para soltá-lo, mas ela o engoliu! A natureza não tem nada de belo, é sempre a lei do mais forte, do maior comendo o menor, a luta pela sobrevivência toda hora, todo dia, é a lei da vida.
Olhou a pescaria por mais alguns instantes e voltou para encontrar com a sua mulher, deixando eles na sua habitual convivência "homem e animal", não sabendo qual deles seria mais cruel.
A natureza não era nada bela mesmo!
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