O Encontro
Ele tem trinta e sete anos de idade e fora casado por cinco. Há dois anos viu seu casamento chegar ao ocaso e está oficialmente divorciado faz um ano e três meses. Ela completou recentemente trinta e um anos e vem de uma separação dolorosa. Descobrira não apenas que seu marido a traía, mas que fazia isso não com uma mulher e sim com outro homem. Mais precisamente com um personal trainer da academia onde ela e ele treinavam. Agora, um ano e meio depois desses acontecimentos, dizia a si mesma que era hora de recomeçar, de dar a si e a outro a chance de escrever uma nova história.
Ele a olhava discretamente, pois não queria ser flagrado a observá-la. Sobretudo quando seu olhar teimava em, vez por outra, focar no traseiro da bela moça. Ele a achava bastante atraente e sentia que provavelmente se agradaria dela para além das exterioridades. Mas, ao mesmo tempo, sua mente assegurava-lhe de que "uma mulher daquela" não estaria disponível, ainda mais para um tipo como ele. Ela certamente era "areia demais para o seu diminuto caminhão" e provavelmente compromissada com um cara com características de certo ator Hollywoodiano de sobrenome Pitt.
Ela também o havia notado. Sua excelente visão periférica, dádiva concedida à maioria das mulheres, permitiu que o esquadrinhasse sem que ele tivesse a mínima chance de perceber. Ele de algum modo a agradava visualmente. Não sabia exatamente o porquê, já que outrora tinha inclinação apenas para os chamados "sarados", mas ele definitivamente a agradava. Talvez esse seu lado, que selecionava a partir de elementos visíveis, tivesse amadurecido após a decepção com os dois últimos sarados com quem se relacionara. Primeiro um ex namorado, que a traíra com sua melhor amiga, e depois seu ex marido e a história com o personal melaninado.
Era início de mês e as filas em todos os caixas do supermercado estavam relativamente grandes. Eles estavam separados apenas por uma fila de distância. Ela no caixa nove e ele no caixa de número onze. O distanciamento exigido entre os clientes permitia que cada um deles tivesse visão clara do outro caso se aventurasse a olhar. Mas nenhum dos dois queria ser flagrado e por essa razão, ou não olhavam ou faziam isso tão disfarçadamente que não daria para o outro perceber convictamente a intenção do sutil giro do pescoço. Ele, em determinado momento, até teve a impressão de que ela o olhara, mas rapidamente afugentou o pensamento ao lembrar de sua aparência genérica contrastante com a beleza da moça de cabelos negros. Ela também desconfiou que ele lançara-lhe alguns olhares, mas não tinha certeza. Talvez fosse para a moça da outra fila, pois ela parecia mais velha e ele com certeza preferiria uma loba a uma balzaquiana que havia sido trocada por outro homem.
Os minutos se passavam e eles chegavam cada vez mais perto da moça que operava o caixa. Ele deu mais uma olhadela disfarçada e por alguns instantes sua mente perdeu-se em pensamentos libidinosos. Imaginou-se num beijo tórrido com a moça enquanto seus braços apertavam-na de encontro ao seu corpo. Ambos despidos e ardendo em avassaladora paixão. Suas mãos a percorriam enquanto o beijo subtraía-lhes a capacidade de respirar coordenadamente. As línguas buscavam-se numa avidez animalesca produzindo nele a ereção mais rígida que já tivera em seus trinta e sete anos.
Duas filas depois, ela olhava discretamente para ele e algo acendeu em seu interior. Fantasiou um abraço apertado daquele desconhecido que de alguma forma e por algum motivo atraía-lhe como a armadilha de um passarinheiro. Nunca o vira e tinha certeza de que ele certamente nem a notara, mas sentia como se algo os conectasse naquele momento e lugar. Algo inexplicável. Em seu devaneio, seminua, ela o enlaçava pelo pescoço e entregava-se a um beijo quente, molhado e apaixonado. Sentia-lhe os braços a lhe envolver, apertando seu corpo de encontro ao dele. Sentia-lhe a rigidez do falo a dizer-lhe que ela era sim desejável e que sim, poderia viver dias sexualmente felizes e ativos sem medo de que em algum momento tudo desabasse sobre sua cabeça de repente. Sentia-se viva. Pronta para amar e ser amada. Para deliciar-se com tudo o que a vida a dois disponibiliza: amor, carinho, romantismo, cumplicidade e sexo… muito sexo. Sexo de todas as formas possíveis e impensáveis entre dois seres que se amam e se desejam ardentemente.
"Que se amam?!" Ela abriu os olhos e balançou negativamente a cabeça. Havia exagerado na dose de loucura. Aquilo não fazia o menor sentido, mesmo tendo vivenciado algo incrível durante sua breve viagem mental.
Ambos finalmente chegaram ao momento do registro de suas compras. Houve um instante em que seus olhos encontraram-se, mas ambos desviaram o olhar no mesmo momento. A cada item embalado, a frustração preenchia seus corações.
"Seria tão bom se não fosse apenas uma ilusão da minha cabeça!" Ele pensou.
"Ele certamente ficou sem graça porque o vi enquanto olhava para a mulher da outra fila."
Ela pagou suas compras com dinheiro; ele pagou as suas com o cartão de débito. Ela caminhou na direção da rampa de acesso à garagem; ele pegou o telefone para solicitar num aplicativo o veículo que o levaria para casa. A cada passo que davam na direção oposta um do outro, eles sentiam desfazer-se a breve conexão que por algum tempo, sem que soubessem, os uniu e os teria unido ainda mais. Em lugar disso, frustração e uma inexplicável vaziez enchia-lhes o coração. Enquanto isso, a moça do caixa registrava as compras de uma senhora tagarelante...