"O boné e as goiabas"

25/02/2018

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Estava sem boné. Os que tinha levei para o Sul. Fiquei sem nenhum para enfrentar o sol forte de verão. É ruim andar sem proteção para o rosto e olhos, a claridade sempre me incomodou, olhos claros tem este problema. Cheguei a entrar em loja de esportes para comprar um novo, caríssimo como é tudo nessa "megalópole".

Indo ver meu filho dias atrás, caminhando pelas ruas de sempre para o seu escritório, passei por um boné não muito velho, jogado na calçada. Não parei , mas tive a intenção de pegá-lo!

Meu preconceito, e falso incômodo, pelo que os outros achariam de eu pegar um boné velho jogado no lixo, que para mim não seria problema algum, me impediu naquele momento. Fui passando por ele ali me chamando, e como dizem: "cavalo selado passando , tem que montar, pois só passa uma vez". Ele passou!

Dias depois, indo a pé novamente pelo mesmo caminho, para almoço com meu filho, caminhava ansioso e curioso e me perguntava : "estaria ainda lá o boné velho?". Estava, à minha espera! Não acreditei, pois dias se passaram e ninguém o pegou : era para ser meu!

"Levo-o para casa, deixo-o de molho em sabão em pó, água sanitária e ficará limpo, novo." Peguei, pois não podia deixar o "cavalo selado passar duas vezes"..... Coloquei-o no saco que levava às costas, carregando guarda chuva e outros badulaques, e me fui, exultante como uma criança que acabara de ganhar um presente . Tenho boné agora, e de graça!

Segui ao encontro do meu filho, quando passei por uma goiabeira na calçada, carregada e com algumas frutas espatifadas no chão. "Agora é pegar umas no pé para fazer um suco". Estava a árvore em uma esquina movimentada, com o sinal fechado para os carros cruzarem a avenida, parados e assistindo a minha catação das goiabas. Puxei galho, desenrosquei folhagem e pronto! Consegui quatro goiabas. Mais um achado!

Atravessei calmamente a rua comendo uma delas, sob os olhares dos motoristas aguardando abrir o sinal, sem medo de encontrar o bichinho branco, comum, fazendo uma ligação com a sujeira do boné, talvez com pulgas! Instintivamente, comecei a sentir coceiras! Não havia pulgas, carrapatos que me coçassem. Impressão, só.

Comi a goiaba sem bicho, estava razoável, boa para suco. Continuei a caminhada com meu novo boné velho a ser limpo e as goiabas no saco, feliz pelos achados. Nada falei ao meu filho sobre o boné , só das goiabas, ao encontrá-lo.

Almoçamos, e voltei para casa, ansioso para lavar o boné e fazer o suco. Fiz os dois, e já estou com o boné cheiroso, limpo e em muito bom estado. Novo. O suco ficou razoável. Mas o que é de graça não se exige certo!

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 14/10/2020
Código do texto: T7087003
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