"Faxina"

25/02/2018

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Chego à entrada do saguão do meu prédio e todos os móveis no canto, empilhados. Chão molhado, a faxineira com vassoura na mão firme e forte, limpa e esfrega no seu jeito de gente de garra.

Toda sexta-feira é assim: ataca a calçada, guarita, o hall de entrada, a limpeza total. A faxina geral da semana. Faz com empenho, esfrega, tira o pó de cantos, curvas, paredes, vidros, tudo muito limpo tem que estar.Típico deles, a convicção do certo, o direito, talhada no sertão da existência dura e implacável da sua origem.

-"... dia de faxina, vou sujar de novo né!" - digo a ela como cumprimento, e sigo pisando em sua limpeza, indeciso e cuidadoso até o elevador. Ri alegre e simpática, franca e singela. Bonita!

-"Num tem póbrema, sem xujera num tem faxina e eu num tenho trabáio si num xuja, né memo"! - A sabedoria popular!

A crueza objetiva que nada tem de difícil ou que esmoreça a sua sobrevivência. Enfrentam com coragem simples e direta, pois são heróis na sua miséria diária.

Já no elevador, com o piso por mim "sujado" sem medo ou remorso, subo e sinto minha inferioridade, de não ter essa força interior moldada nas dificuldades, que o sobreviver lhes impõe. E ela ali, feliz de estar simplesmente limpando. Invejo essa pureza que não tenho!

Admiro esse povo, nosso povo, nossa raça. Sexta que vem nova faxina e quem sabe, suje mais para ela continuar a ter trabalho!

11/09/2002 - 25/02/2018

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 13/10/2020
Reeditado em 13/10/2020
Código do texto: T7086318
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