“Caramelo Melado”

12/10/2020

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Todos os dias ele sobe a rua com seu andar curto e rápido. Tem corpo comprido, orelhas alongadas de abano, olhos castanhos claros e nariz afilado.

Passeia frequentemente pelas casas sem qualquer cerimonia, entrando e saindo delas como se fosse a sua. E o pior de tudo, remexe o lixo que é deixado para ser recolhido nas calçadas em frente às casas. É um porcalhão também.

Sei quando ele esta dando a sua voltinha, pelo latido dos cães das casas vizinhas, pois fazem uma algazarra infernal. La vem o Caramelo, penso.

Seu nome é Melado, mas o chamo de Caramelo pela sua cor caramelada, pois adotei esse nome por questão de praticidade, já que não me lembro do Melado. São todos doces.

Ele mora duas casas abaixo da minha, e foge diariamente pelo vão do portão de grades de ferro, fazendo um grande esforço para passar por elas, se encolhendo todo como uma cobra. Às vezes, com a barriga cheia, não consegue sair. Já ficou preso, numa situação cômica que me contaram. Tiveram que chamar a sua dona para tirá-lo. Mas mesmo assim, não deixa de fugir todos os dias para o seu lar, a rua.

Houve um dia que cheguei a minha casa à noite, e ao abrir o portão, escuto latidos no meu jardim, vindos debaixo do carro estacionado da minha mulher.

-Ué, eu não tenho cachorro? - questionei.

Os latidos seguiram e até me amedrontaram um pouco, mas percebi, ou já sabia que era o Caramelo que estava na minha casa!

-Sai daí Caramelo, sem vergonha! - ralhei com ele alto e enérgico.

Ele saiu correndo com as suas pernocas curtinhas, balançando seu rabicho, de orelhas arriadas assustado com o meu grito. Junto com ele, estava outro cachorro, acho que era cadela, bem maior e bem peluda acompanhado o danado do "salsicha".

-Que safado esse Caramelo, esta vindo namorar aqui em casa! - falo para a minha mulher, que apareceu no alto da escada da varanda da nossa casa pelo meu berro, querendo saber o que ocorria .

-Caramelo não! É Melado. - me corrige.

-Melado, Caramelo é tudo igual! Acredita que ele estava embaixo do seu carro com outro cachorro, acho que uma cadela, namorando o safado! É possível?

Minha mulher ri e me diz:

-Pois é Fernadinho, já não chega a "gataiada" da rua que você fica chamando aqui para casa e que fazem cocô embaixo da sua moto, agora tem o Melado também!

-Eh, mas ele fica debaixo do seu carro, não da minha moto.

-Quem sabe ele quer me namorar, hein?

-Acho que ele é muito melado para você! - brinco com ela, que ri da piada.

Algumas horas depois, assistindo a televisão, escuto a sinfonia canina na rua e digo para a minha mulher:

-Lá vem de novo o safado do Caramelo Melado.

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