“Coincidente Lembrança”
24/10/2014
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Estou a caminho do aeroporto novamente em carro de aplicativo, mantendo a conversa padrão com o motorista. Pergunto seu nome, a idade, se o mercado está bom, etc. Era moço, de estatura mediana, um pouco careca, barbicha e bigodinho ralo.
-Quanto tempo está nesse trabalho?
-Seis meses.
-Recente, hein! O que fazia antes?
-Trabalhava na área financeira de uma empresa.
-Ah. Saiu ou "saíram" com você?
-Saíram, e como eu tinha carro bom, meu sogro que trabalha com aplicativo me estimulou a entrar no mercado.
-Muita gente foi para essa área.
-Pois é, mas quero mudar.
-Para qual?
-Enfermagem!
A resposta me lembrou da última viagem que fizera, o motorista contara que há dois anos perdera sua filha de um ano e meio de idade. Era enfermeiro no hospital em que estava hospitalizada e fora incapaz de salvá-la, virando motorista de táxi por desgosto.
-Que coincidência triste! Mês passado ia para o aeroporto como agora e em conversa com o motorista, contou o porquê da sua mudança de área - perdera sua filha de ano e meio no hospital onde era enfermeiro e não pode fazer nada. Ficou tão decepcionado que abandonou sua profissão virando motorista de aplicativo. Você é ao contrário!
-Caramba! Tenho também uma filha de dois anos e não sei se seguiria vivendo se a perdesse!
-Foi o que me disse, que morrera junto e queria que o mundo parasse.
-Pois é! A vida segue quer a gente queira ou não, o mundo não para!
Seguimos conversando, contou-me dos seus sonhos e planos futuros. O trágico ocorrido com o outro motorista já era parte do nosso cotidiano implacável e agora apenas uma triste e coincidente lembrança. A vida segue!
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