“Chaves de boca, antigas!”

03/11/2019

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Moro próximo à Praça Benedito Calixto, famosa por sua feira de todos os sábados. Naquele, fui passear por suas ruelas, entre as barracas, fazia tempo da última vez que andei por lá. Não sou muito fã das quinquilharias e coisas antigas que vendem, mas o dia estava quente e resolvi passar o tempo, "flanar" por ela.

As barracas envolvem toda a praça, há várias seções, como nas lojas de departamentos, divididas por itens de roupas, brinquedos, eletrodomésticos, etc. Têm as ruelas dos discos e cd's, do artesanato, dos brinquedos velhos, das pratarias, dos telefones, das moedas, enfim uma miscelânea de coisas e trecos antigos que atraem muita gente. É um programa de sábado do paulistano e dos turistas que nos visitam. Uma perfeita Torre de Babel!

Vendo os artigos expostos, pensei que poderia ter guardado vários dos que ali eram vendidos, como meus brinquedos - "Autorama", miniaturas "Match Box", o lindo trem elétrico "Lionel", bonecos do "Forte Apache", telefones, canivetes, enfim uma série de itens, que foram ou para o lixo ou doados. Ah, sem falar nas roupas, óculos escuros, sapatos, "LP's", ou seja, coisas do nosso quotidiano que agora viraram relíquias.

Caminhei pelas "ruas" com calma, vendo o que cada uma tinha, parando em algumas que me interessavam. Vi, por exemplo, um relógio "Tissot" suíço, antigo e bonito, marca conhecida, boa, perguntando seu preço por curiosidade (adoro relógios):

-Quanto é esse aqui?

-O "Tissot"?

-Sim.

-Mil reais; é original.

-Não tem certificado, não?

-Não meu querido, não tem, mas pra você, faço 800! - e a desconfiança de ser roubado?

A maioria das pessoas que têm as barracas é mais velha, idosa, uma grande família, que conversa entre si sobre os seus produtos, com os transeuntes, possíveis compradores, tornando o local um verdadeiro mercado "das pulgas da cidade", e o é - verifiquei na internet como sendo um dos, em que se visualiza a história da vida dos que vendem e compram. Eu mesmo voltei ao tempo da minha infância e juventude, vendo muitos dos objetos a venda que usei: o registro na memória meio esquecido, que agora se reaviva ao revê-los. Um retorno no tempo.

Continuei o passeio e chego à uma barraca na outra extremidade da praça, onde tinham ferramentas mecânicas expostas como antigas (!), tais como um esmeril, chaves fendas, latas de óleo. Mas o que mais me chamou atenção foi uma prateleira do lado de fora da barraca, junto ao gramado da praça, com várias e enormes chaves de boca. Não acreditei!

- Que interessante essas chaves!

-Ah, bom dia, sim, comprei de uma ferramentaria que estava fechando. - diz o barraqueiro.

-Mas nunca imaginava que nesta feira de antiguidades fosse encontrar essas chaves! São antigas?

-São, tem pelo menos trinta anos, veja o modelo delas, foram fabricadas especialmente, não existe no mercado. As novas não são assim. O senhor não acha para comprar.

-Ah sei, e quanto custam? - estavam amaradas em lotes de tamanhos iguais.

-As maiores 50 cada; as menores, 35.

Peguei um fardo delas, das menores, senti seu peso e fiquei pensando quem iria comprá-las, pois poderiam obter novas em qualquer loja de ferramentas. E se as tratasse como antiguidade, em qual local da casa as colocaria? Fiquei intrigado.

Voltei depois para casa, liguei o computador curiosíssimo para ver o custo de chaves de boca novas. Encontrei-as em jogos de vários tamanhos e bitolas, nenhuma igual a antiga. Continuei a pesquisa, e em site de leilão, encontrei uma parecida, usada na indústria naval, enorme, em aço forjado, também fabricada para a função, mais interessante, pintada em laranja e já bem gasta pelo uso, até bonita, e que ficaria bem melhor na casa de alguém, do que as da praça.

Enfim, assim foi aquele sábado de feira. Ainda hoje me pergunto quem e onde colocaria, como decoração, aquelas chaves como sendo antigas! Provavelmente um mecânico, quem sabe. Voltarei à feira em outro sábado para ver se foram vendidas e quem as comprou.

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 07/10/2020
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