1150-GAROTAS MODERNAS

Lais e Luísa eram adolescentes iguais às suas colegas e amigas, outras tantas meninas-moças que viviam alegremente inseridas nos usos e costumes da classe média na primeira década do século 21.

Estudiosas, alegres, descontraídas e sociáveis. Nos fins de semana, passavam nas casas de colegas, ou tinham colegas na casa de seus pais para conviverem os folgados e alegres dias, sem aulas e com muitas maneiras de se divertirem juntas.

Laís convidara Bruna, que chegara “de mala e cuia”, isto é, com tudo o necessário para o que deveria ser divertidos dias longe dos pais, sem nenhum compromisso ou obrigações.

Noite de sexta-feira. Entre tantas coisas, o que fazer¿

Os pais das irmãs estavam viajando, o que aumentava as opções de distração.

— Vamos ao cinema. — Propôs Luísa.

— Já está muito tarde pra sairmos. — Disse Bruna.

— Então vamos fazer pipoca e assistir um filme na TV.

— Legal!

Enquanto preparavam a pipoca, escolheram o filme.

— Prefiro filme de terror. — disse Bruna.

— Eu também. — Concordou Luísa.

— Sei não... tenho medo...— disse Laís

— Deixa de ser boba, mana!

Sentaram-se e escolheram o filme. Era um daqueles de arrepiar os cabelos da nuca.

Estavam no quarto de Lais, no segundo andar da casa. Ouviram vozes de homens conversando na rua. Incomodada, Laís levantou-se para fechar a janela. Deu uma olhada para baixo e não viu ninguém na rua.

— Que estranho... Ouvi umas vozes lá embaixo mas não tem ninguém na rua!

— Ora, mana, o filme nem bem começou e você já está apavorada.

O filme desenrolou-se no clima de todo filme de terror, num crescendo de suspense e mistério.

Um susto geral quando a campainha da porta foi acionada.

— Não vamos atender. Se for alguém conhecido, chama pelo celular.

E a campainha tocou mais três vezes.

— Vamos desligar a tevê... Fingir que não tem ninguém em casa — disse Laís, mostrando um pouco de pânico.

Desligaram a televisão. Ouviram um barulho, uma pancada seca contra o alto muro da frente da casa.

Tininha, a pequena vira-lata, começou a latir no pátio.

Bruna olhou por uma festa da veneziana da janela e, entre as sombras, viu algo que a assustou ainda mais.

— Acho que encostaram uma escada para pular o muro!

Ficavam cada vez mais apavoradas. Até o silêncio de Tininha, que parara de latir, as aterrorizavam.

Pegando o celular, Luísa avisou:

— Vou chamar a polícia.

E chamou o 101, telefone de emergência da Polícia Militar.

— A patrulha mais próxima está no seu bairro. Aguarde alguns minutos e a unidade móvel chegará aí. — A informação chegou de uma voz feminina, atenciosa, delicada, mais parecendo de atendente de consultório médico.

Esperaram em silencio. Felizmente, o carro da PM chegou em poucos minutos, em silêncio e piscando as luzes sobre o teto, numa festa de cores.

As três jovens desceram correndo a escada e abriram o portão.

Apresentações, informações, aquelas formalidades iniciais. A presença dos dois policiais fardados tranquilizou as três mocinhas.

— Entrou alguém na casa¿

— A gente acha que não. Ficamos trancadas no quarto dela todo o tempo, no andar de cima, — Disse Lais, pontando para Luísa.

— Vamos dar uma olhada. Vai que tem algum larapio escondido. Vocês fiquem aqui na sala. Não saiam daqui.

Primeiro, percorreram com cuidado a parte de baixo, mãos direitas nos coldres, prontas para sacar a arma. Nada viram de extraordinário. Subiram a escada, vagarosamente, degrau a degrau, agora já com as armas empunhadas.

Eles vasculharam todo o segundo pavimento: os quartos de Laís e Luísa, a pequena área externa coberta, os lavabos, tudo, tudo. Olharam dentro dos armários e debaixo das camas. Não encontraram ninguém escondido.

Desceram céleres.

Não tem ninguém escondido na casa. Mas lá em cima teve alguém, sim. Uma ou duas pessoas. Deixaram os quartos na maior bagunça. Parece que procuravam alguma coisa. Tudo revirado.

Laís e Luísa trocaram olhares de cumplicidade. Sabiam do que os policiais estavam falando.

Luísa se enche de coragem para esclarecer os policiais e liberá-los de prosseguirem na busca.

— Sabe o que é, seu guarda¿ Aqueles são os quartos meu e da minha irmã. É que a gente não tem o costume de arrumar os nossos quartos.

Sem sequer se darem ao trabalho de se despedir, os homens fardados entraram na viatura e partiram.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Sitio Estrela, Sopé da Serra da Moeda,

28 de junho de 2020

Conto # 1150 da série

INFINITAS HISTÓRIAS.

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 06/10/2020
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