"A camiseta"

09/11/2020

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Comemoramos neste ano de 2019, 40 anos de formados em Engenharia! Tempo...

Fizemos uma festa comemorativa com cerca de 80 colegas, em "buffet" contratado com comes e bebes. Foi em um sábado, com horário comedido, das 20:30h às 01:30h, "balada da terceira idade", pois já não temos mais folego e físico para malabarismos atléticos. O corpo padece, e como!

Programei-me para a ida, escrevendo em uma camiseta branca, bem usada, meu nome, ou sobrenome como era mais conhecido, meu numero e área, Civil, na frente como identificação, e no verso, igual e em letras garrafais com o numero 40 , como uma camisa de time de futebol, para que todos a assinassem como recordação da data.

Combinei com amigo de irmos juntos em carro de aplicativo, deixando o seu na minha garagem. Ele veio e fomos.

Chegamos ao evento pelas nove horas. No salão, muitas cabeças brancas, carecas, poucos cabeludos, alguns mais "fortes", ou "cheinhos, enfim, colegas que se os encontrasse na rua não os reconheceria, e vice versa, é fato. O tempo chega para todos, é irreversível!

Era um cara-crachá e "caramba quanto tempo; se cruzasse com você na rua não te reconheceria" geral, mas alguns mudaram pouco. As mulheres mantiveram mais que os homens.

Ao verem minha camiseta, não entenderam direito, pois destoava minha vestimenta dos demais, mais parecendo um estudante daquela época - camiseta, calça jeans e tênis, o nosso uniforme, ou o meu naquele tempo.

- Que legal a sua camiseta! Boa ideia, não precisa fazer o cara-crachá.

Levei uma caneta de tinta fixadora para que a assinassem, mas nada disse. A festa seguia, a bebida subia e fazia os seus efeitos - o amigo que deixou o carro em casa já estava bem "calibrado", e devagar, fomos todos voltando no tempo, ou àquele tempo, revivendo e refazendo as velhas brincadeiras, cantorias, gozações e tudo o mais... Não mudamos nada. A nostalgia de anos felizes!

Comecei, então, a passar pelos grupos com a caneta para que assinassem. Cada um foi desenhando seus nomes ou apelidos nas minhas costas, mangas e peito, ficando ela toda marcada de garranchos.

Em dado momento, em um grupo bem animado "etilicamente", com risadas e falas altas:

- Opa, que recordação hein! Deixa-me colocar o meu nome aqui. - fala um deles, assinando com força nas minhas costas.

- Traga-a na próxima festa. Agora vai ser a cada 5 anos! - diz outro.

- Pois é! Sabe-se lá se estaremos vivos nos próximos 10 anos, não é? -completa o que assinava.

- Então, por isso que você tem que trazer ela para a gente fazer uma cruzinha no nome de cada um que já tenha ido!

Rimos muito com a brincadeira, meio macabra, mas é possível, pois estaremos quase septuagenários, já não mais "sexOgenários" como agora - entrado ainda mais na idade de risco! É a vida.

A camiseta recebeu várias assinaturas e a festa terminando, eu querendo ir embora. Meu amigo cada vez mais "cachaçado" querendo ficar até o ultimo sair, como todo bom bêbado! E o pior, seu carro estava na minha garagem e ele sem nenhuma condição de guiar.

Chamamos o carro do aplicativo, ele sentou no carona ao lado do motorista, eu atrás.

Falava coisa com coisa, língua enrolada, olhinhos fechadinhos, sua cabeça pendia de sono, "pescava" seguidamente, acordando de chofre com as curvas e paradas; ele estava engraçado:

- Aqui é a,a, avenida Bra, Brasil né? -com sua voz pastosa.

-É a Republica do Líbano - responde o motorista.

- Óóoo, tem cer, certeza! - o motorista ria da cena, hilária mesmo.

Foi ele assim, acorda e dorme e falando das ruas até chegarmos à minha casa.

-Vou pe, pegar o carro!

-Negativo! Vai deixar ele aqui e vai de aplicativo! - falo autoritário.

-Eu, to bão!

Tive que chamar outro carro, o que estávamos não poderia seguir. Chamei, ele ficou dormindo profundamente no que viemos, o motorista aguardou até a chegada do novo veiculo, foi bem camarada, e também, divertindo-se com a situação.

-Já che, cheguei em casa? Rapidinho hein! - acordou ao meu chamado para entrar no outro carro.

- Nada, agora você vai para sua casa nesse aqui.

Coloquei-o no banco traseiro, ele se aninhou quase adormecido e o carro saiu. Subi ao meu andar e o pouco do que restou da noite se foi.

Dia seguinte, domingo, recebo mensagem dele, hora do almoço, dizendo que buscaria o carro à tarde e que não tinha assinado a camiseta! Poderia ter sido o primeiro.

Veio pegá-lo ao final do dia, eu dormia e não me chamou pelo interfone para que a assinasse. Não faltará oportunidade nos próximos cinco anos, espero. Não mudamos nada. Bons e velhos tempos da faculdade.

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 06/10/2020
Código do texto: T7081237
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