Tão claro como a luz do dia.

Era setembro. A caatinga mostrava todo seu esplendor. As árvores pálidas e sem folhas. As altas temperaturas atestavam e legitimavam que José estava de volta a terra natal.

O retorno se deu cedo da manhã ainda. José viu a velha estrada tomada pelo mato e esburacada, agora sem mato e toda piçarrada. Seguiu incrédulo até a sua casa. Ia apreciando aquela benfeitoria que era o sonho da comunidade. Onde antes havia crateras enormes, agora havia uma estrada lisinha de piçarra batida, feita no capricho pelos melhores profissionais da área. Caminhou sem levar uma topada, os três quilômetros de estrada até chegar a sua casa. Mesmo o dia amanhecendo, ainda escuro, era perceptível a benfeitoria da estrada que dava acesso ao povoado Mamoeiro, onde José morava. Ainda, de longe, esfregou os olhos, sem acreditar na visão que se apresentava diante dos seus olhos. Via, à frente, o brilho das lâmpadas nos postes das casas vizinhas. Todo poste ficado no solo, continha uma luminária com uma lâmpada potente, iluminando os terreiros das casas. Agora, assim, José acharia justo a cobrança da taxa de iluminação pública, cobrada pelo poder público do município. Antes de José viajar, pagava em sua casinha uma taxa absurda de quase quinze reais sem ter um bico de luz nos postes iluminando à frente da casa. Alguns moradores se quisessem ter a claridade no terreiro, tinham que colocar por conta própria um bico de luz na frente de suas casas, aumentando assim o consumo da energia e ainda pagando a taxa abusiva de iluminação pública. José achava tudo aquilo um roubo e um desrespeito com os moradores da comunidade. Via tudo aquilo mudado. Toda a comunidade iluminada. A estrada impecável.

José estava em choque com tudo o que estava vendo. Como a comunidade poderia ter mudado tanto, em tão pouco tempo. A estrada nunca tinha recebido uma carrada de piçarra. Agora toda perfeita. Os postes alguns até tinham luminárias, mas não tinham lâmpadas. A taxa essa vinha todo mês no talão. Agora tudo bem conservado e iluminando todas as casas.

José nem passa em casa. Passa direto na estrada, rumo ao chafariz da comunidade. Foi conferir se houve mudanças por lá também. Até onde José se lembrava o chafariz vivia faltando água, pois a gestão pública vivia prometendo aprofundar mais o poço e colocar uma bomba de qualidade. A população sempre sofreu com a falta d’água na comunidade.

José quase não se conteve e as lágrimas de emoção começaram a emergir dos olhos, quando o mesmo percebeu que a caixa havia sido trocada e percebeu também que a encanação era toda nova e mais ainda, percebeu que havia uma ramificação de canos no solo, em direção a cada residência. Ao retornar em direção a sua casa, José percebe que nos quintais havia uma torneira instalada e jardins floridos em volta das casas. Também haviam pés de plantação. Tudo bem verde. Alguns com flores, outros com frutos. José não acreditava no que seus olhos viam.

Ao retornar para casa, José vem contemplando todas as mudanças ocorridas no seu lugar. Toda aquela transformação era um sonho antigo da comunidade, mas nunca ninguém tinha olhado com carinho para aquele lugar. José viviam se questionando, se aquele abandono era apenas na comunidade dele. Se as estradas esburacadas, as taxas indevidas de iluminação pública, a falta d’água e muitos outros problemas, eram apenas na comunidade dele.

Mamoeiro parecia um sonho na mente de José. Tudo que ele imaginava estava diante de seus olhos. Era uma realidade incrível. José ficou muito feliz com o regresso ao ver sua comunidade como ele sempre sonhou.

Mas...

__ José, meu filho! Acorde para buscar água! Não tem uma gota nem para fazer o café.

Pedro Barros.

Barros Nasimento
Enviado por Barros Nasimento em 06/10/2020
Código do texto: T7081118
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