Desilusão ortográfico-amorosa
Há que se escrever bem. Razoavelmente já está bom. Eu mesma, não sou lá grande coisa nesse negócio de escrita, mas sinto-me bem alfabetizada. Duro é quando você encontra alguém atraente, mas que mal conhece a “letra do ó”. Foi esse nosso problema!
Ele se apaixonou e, como bom pisciano, romantizava cada gargalhada minha, cada gesto bobo ou cada refeição. Me devorava com seus olhos de crepitante esmeralda e era, sem sombra de dúvidas, um amante sem defeitos. Mas não dava para ser namorado ou parceiro, especialmente na era da tecnologia em que as pessoas precisam escrever. Aí, não dá!
Eu acordava com um: “Bom dia princeza” e dormia com um “tiamu linda”.
Doía! Doía de verdade! Pôxa, cara! Os vocativos choravam por uma vírgula, a ortografia pelejava a sorte de uma escolha correta, mas simplesmente não fluía.
Era comum me mandar mensagens dizendo que eu era a “mossa” mais “espessial” do planeta, ou algo do tipo: “tô com muitas saldade de voçê”.
Quando estávamos juntos, era o homem mais robusto, atraente e perfumado do mundo. Romântico, agradável e carinhoso. Lembro-me do quanto beijava bem e me fazia sentir tesão. A química funcionava e hoje penso que era tudo o que tínhamos.
O problema era a distância entre nós e o tal do SMS.
SMS tem o poder de destruir relacionamentos. Principalmente na hora da reza!
No dia em que ele disse: “Resei pra voçê hoje e pedi o espirituçanto para te protejer”. Foi ali, naquele momento que eu descobri que não era amor. O amor talvez possa tudo suportar, mas o “espirituçanto” pelo amor de Deus, nem reza brava resolve!