“Seis balas I”

17/11/2020

Sequência do texto "Seis balas"

174

Acordei hoje, domingo, pensando na aposta que fiz ontem com o Felipe. O jogo entre São Paulo e Santos, ontem também, empatou e ninguém ganhou. Achei melhor comprar as balas e leva-las, pois o garoto me conquistara.

Fui, então, comprá-las no supermercado próximo à minha casa, não muito sortido - estava com problemas de reposição já há algumas semanas, talvez não tivesse as "sete belo", como ele definira. Procurei-as nas prateleiras acanhadas das guloseimas infantis, não tinha. Mais embaixo, na ultima, quase junto ao chão, vi pacotes com o numero sete. Era de pirulitos de framboesa, "sete belo"! Melhor pensei, pirulitos duram mais e as crianças adoram. Eu quando criança, não gostava muito de balas, pirulitos, só de chocolate, até hoje.

Comprei um pacote e fui para o clube, imaginando se estaria lá, o Felipe. Cheguei ao vestiário, entrei e encontro com Igor, o "meio período" que cuida das instalações:

-Bom dia Fernandão!

-Bom dia Igor. Empresta a caneta e uma folha de papel para deixar um recado para um garoto que apostei ontem. Conto-lhe a história.

-Certo!

-Vou deixar o pacote dos pirulitos com você, e um recado no armário dele, dizendo que estão aqui contigo, Certo!

-Tá Fernandão, mas se ele não vier, como eu faço?

-Espera até o próximo fim de semana, se não vier, pode distribuir os meus pirulitos para a turma ! - rimos da brincadeira. Fiz o bilhete e introduzi por uma das aletas de ventilação no armário do Felipe.

Tomei banho, e trocado, saio do vestiário em direção ao campo de futebol, meu caminho de saída do clube, onde vários pais com seus filhos jogavam futebol. Vi uma bola escura como a que o menino brincava ontem no vestiário, não era ele, mas seu pai, em um dos gols, jogando com o filho mais velho e outro guri. Felipe não estava jogando.

Fui ao pai:

-Oi bom dia, tudo bem, você é o pai do Felipe, não? Cadê ele?

-Bom dia, tudo bem. Ele está ali com a mãe.

Vejo-o sentadinho no colo dela, com o celular, atento. Vou até eles e lhe digo:

-Tudo bem Felipe. Trouxe o pacote das balas que apostamos.

-Mas empatou!

-Sim, mas quis trazer do mesmo jeito. Vamos lá ao vestiário pegar? Posso ir com ele, mamãe?

-Sim claro!

Fomos os dois, ele curioso e alegre, pergunta:

-Trouxe a "sete belo" né? Eu não trouxe por que empatou, então, ninguém ganhou né! - espertíssimo responde.

-Tudo bem, eu quis trazer assim mesmo, mas é surpresa, você vai ver! Você não precisava trazer não, empatou né, ninguém ganhou a aposta, você está certo.

Encontro, novamente, o Igor na porta da entrada do vestiário:

-Igor, esse aqui é o Felipe com quem apostei ontem, e trouxe o pacote para ele que está contigo.

-Oi Felipe, tudo bem. Vou pegar.

O garoto fica na expectativa, com seus olhos espertos e vivos acompanhando Igor, nos seus poucos quatro anos. Uma graça mesmo o Felipe.

Igor lhe dá o pacote, ele olha e vê que é de pirulitos, sorri e me diz:

Obrigado tio!

Ótimo que gostou!

Voltamos para onde estavam seus pais, e seu irmão vem junto dele curioso com o pacote.

-Mas empatou Felipe, você tem que dar para ele também! - fala o irmão.

-Se empatou ninguém ganhou, não é? O tio me disse que trouxe assim mesmo e que eu não precisava trazer. Ninguém ganhou né tio?

-Sim, tá tudo certo.

Os meninos ficam ávidos para abrir o pacote, a mãe diz para Felipe:

-De um abraço no tio, Felipe. E só depois do almoço vocês podem chupar o pirulito, certo!

Felipe me abraça, diz "obrigado tio", lhe dou um beijo gostoso na sua bochecha macia e sedosa, despeço-me deles e vou embora feliz. Valeu a aposta!

https://blog-do-cera.webnode.com/

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 03/10/2020
Código do texto: T7078714
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.