Desventuras de Um Técnico - Temporada 2017 - Parte VII - O Adeus de Um Ídolo

Meu pai sempre me aconselhou que se quiser ter sucesso em quaisquer áreas, o planejamento deveria ser meticuloso ao extremo, preparando-se para futuras intempéries.

Alguns dias depois do rebaixamento, reuni-me com o presidente para analisar os nossos erros e fazer projeções para a temporada de 2018.

A boa notícia é que o orçamento era um pouco mais robusto o que permitia talvez novas contratações sem esquecer da política de revelar jogadores das categorias de base.

É bom lembrar que foi com essa mesma política que subimos a Série B em 2016.

Ainda conseguiríamos uma boa renda com o amistoso contra o Dínamo de Kiev como parte do pagamento de Kharatin e aproveitamos essa oportunidade para darmos uma despedida digna a André Luiz, que era um dos jogadores mais queridos da torcida.

Resolvi dar chance aos reservas colocando Patrick e Charles no banco de reservas para alguma eventualidade.

Achei que o público seria bem reduzido pela nossa má campanha na Série B, mas confesso que fiquei surpreendido com tanta gente indo ao Centenário.

Acredito que eles vieram para dar a André Luiz a despedida merecida.

O jogo em si não foi tão emotivo por ser fim de temporada, mas teve alguns fatos interessantes e preocupantes.

Principalmente Léo Carioca que marcou os dois gols do jogo em menos de um minuto.

Fez a favor de cabeça num escanteio e outro contra do mesmo jeito.

Parece que o pessoal do Dínamo de Kiev levou a partida a sério demais e proporcionou algumas entradas violentas com uma delas tirando Sugimoto do jogo.

Teve que sair de maca e nós ficamos preocupados com o estado dele, mas a partida deveria seguir.

Quase no fim do jogo, chamei Darío Rearte para entrar no lugar de André Luiz com este saindo aplaudido de pé e tendo seu nome gritado pela torcida. Todos nós o agradecemos por tudo o que fez pelo Caxias e ele emocionou-se pela homenagem.

Depois do jogo, falei com o médico a respeito de Sugimoto e fiquei tranquilizado com seu relato.

Felizmente não houve fratura, mas teve uma torção de tornozelo e ficará 45 dias longe dos gramados.

Antes de sair do estádio, deparei-me com André Luiz e ele queria conversar comigo sobre seu futuro.

Falou-me ainda de seu desejo em continuar no futebol agora como um futuro técnico e ali pensei: “vou precisar de um auxiliar-técnico para algumas coisas e ele seria perfeito pra isso.”

Fiz o convite e ele aceitou de bom grado.

Naquele momento, perdi um jogador.

Mas ganhei um bom auxiliar-técnico.

* * *

Assim que cheguei em casa, dei um beijo em Lúcia que estava amamentando João Marcos e notei em cima da cama um embrulho enorme e algumas malas no chão.

A princípio, achei que Lúcia iria visitar os pais dela em Porto Alegre, mas fiquei ainda mais surpreso quando abri o pacote que estava em cima da cama.

Era um terno.

Fiquei feliz pela surpresa e Lúcia me explicou que mandaram um convite pra ir à festa da Bola de Prata lá em São Paulo e achou por bem que eu fosse um pouco mais elegante.

Confesso que se não fosse por Lúcia, minha vida seria um caos. A organização dela e o tino pra trabalhos mais profundos me impressiona bastante.

Bem como seu gosto por futebol. A criação dela ajudou muito nisso com o pai sendo conselheiro do São José e diretor de futebol em algumas temporadas.

O nosso primeiro encontro foi bastante engraçado. Meu pai havia sido contratado pelo seu Flávio pra treinar o São José e eu fui junto com o objetivo de aprender como é a vida de técnico.

No jantar de apresentação do meu pai, vi no canto da mesa uma garota que estava apostando com as amigas que conquistaria aquele rapaz que era filho do novo treinador.

O filho era eu.

Por isso que digo as vezes que o amor vem onde menos espera e desde aquele jantar, minha vida mudou pra sempre.

Ficamos afastados por um bom tempo depois que meu pai recebeu uma proposta do Guarani de Campinas, mas assim que voltamos pro Rio Grande do Sul não titubeei e pedi-a em casamento porque ela era a mulher certa pra mim.

E seria uma mãe perfeita para João Marcos, sem dúvida.

Meus pensamentos quebraram-se quando Lúcia pediu para que trocasse as fraldas do João Marcos enquanto experimentava o vestido de gala.

Quando ela mostrou o vestido para mim, vi o quanto estava deslumbrante como sempre fora desde o início.

Depois sugeriu que deixasse João Marcos com os avós antes da viagem e eis o motivo das malas no chão.

E pra minha alegria, meu pai já estava lá conversando com seu Flávio sobre os velhos tempos.

- Por que não me avisou que viria, pai? – disse eu.

- Queria fazer uma surpresa pra você, filho. Só de ver o guri já me faz muito feliz. A propósito, curta bem essa lua-de-mel atrasada. E meus parabéns pela conquista.

- Mas, pai!! Eu não consegui salvar o Caxias do rebaixamento.

- É verdade. Mas tu foste fundamental para o Oeste subir e isso é muito importante pra tua carreira. Vida de técnico é assim mesmo, filho. É céu e inferno a todo momento.

Fiquei ainda com as palavras do meu pai em minha mente quando peguei o avião pra ir novamente a São Paulo.

Mas desta vez não iria sozinho.

* * *

A cerimônia foi muito bem organizada e aproveitei pra reencontrar meu velho amigo Sérgio Soares que estava junto com outros técnicos.

Fiquei bastante emocionado quando Wagner Carioca recebeu a Bola de Ouro da Série C e citou-me enfaticamente nos seus agradecimentos pela conquista.

E vendo também Cristiano recebendo sua Bola de Prata de artilheiro, percebo o lado prazeroso de ser técnico ao lapidar futuras estrelas no futebol.

Acredito que estou no caminho certo.

E se continuar nessa toada, meu primeiro título como treinador será apenas uma questão de tempo.

CONCLUI EM BREVE...

MarioGayer
Enviado por MarioGayer em 02/10/2020
Reeditado em 03/02/2021
Código do texto: T7077723
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