"Waffles"
05/12/2019
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-Chego às 12:30 lá. - mensagem que leio no "zap" de amigo antigo, hoje paralitico, da época da escola primária, o Antônio. Nossa amizade tem mais de 50 anos!
Combinamos almoçar em uma padaria e confeitaria de outro amigo, Sasson - seu sobrenome e como ficou conhecido, este do clube - jogamos polo aquático juntos, que agora está começando esse negocio. Faz pães, "waffles", doces, artesanais e bons. Esta vendendo bem para os grupos que tem nas redes sociais, e agora, abriu para o publico. O local é bem agradável, fica nos fundos de uma enorme casa com quintal largo e comprido. Sua cozinha tem a porta de acesso junto à cobertura em madeira rústica, onde fica uma enorme mesa comunitária para os clientes.
-Estou aqui, 12:30 como combinado! - eu atrasado, moro quase ao lado do local, e é sempre assim, pois se morasse longe já teria chegado!
Saio ventando de casa, caminhando rápido e chego dez minutos depois, ele no carro conversando com o "padeiro".
-Atrasei! Desculpe.
-Você vai bem? Antes de mais nada não é? - cumprimenta-me Sasson.
-Tudo e você. Não dormimos juntos essa noite, certo! - brinco com ele, que ri.
-Tudo bem. Ajude-me a tirar a cadeira de rodas do carro. - diz Antônio levando o veículo para estacionar no amplo e arborizado quintal.
Tiro-a do porta-malas e posiciono ao lado do banco do motorista, ele tem pratica em sair do carro e se instalar na cadeira, afinal faz mais de 20 anos que ficou assim, causado por acidente automobilístico na serra de Paranaguá. Faz tudo sozinho! Sentado, vai empurrando-a até a mesona, eu caminhando ao seu lado.
Sentamos os três e começamos a conversar. Antônio faminto, pergunta o que vai ser?
-"Waffles" salgadas, que acham? Com "cream cheese", tomates picados e azeite! - propõe nosso "chef Sasson".
-Ótimo! Perfeito. - concorda Antônio e eu também.
-Depois, quero saber da historia de como você começou a jogar polo, certo! - para o "chef".
-Si, claro, como no! - é nascido no Uruguai, e brinca às vezes falando castelhano.
-Não tem umas azeitonas, queijo parmesão para beliscarmos enquanto esperamos? - peço.
-Tenho azeitonas pretas que coloco no pão. Queijo não posso cortar, vai faltar depois! Pode ser só as azeitonas? - na forma bem direta de falar dos portenhos.
-Sí, claro, como no! - respondo na mesma moeda.
Ele volta para a cozinha e nós retomamos a conversa, aguardando os "waffles".
Chegam os dois pratos iguais, lindos e cheirosos.
-Que delicia! - diz Antônio.
-Bueno, no? - replica Sasson
-Sim, cheira muito bom! - respondo.
Começamos a comer, ele senta conosco e volto ao assunto do polo aquático:
-Então, como tudo começou?
-Mas já? - responde ele.
-Vamos comer antes, depois ele conta. - fala Antônio.
-Olha, da outra vez que combinamos de nos encontrar, não deu certo. Agora, tem que ser logo, senão vai acabar esquecendo de contar essa bendita historia!
-Vamos comer, e depois ele conta. To faminto! - Antônio replica.
-Tá bom! - concordo vencido.
Antônio engole a sua com voracidade e avidez. Eu vou aos pedaços, são quatro. Chegam outras pessoas para um café, Sasson os atende. Antônio pergunta se divido com ele mais uma, pois já estava com a primeira no "bucho". Aceito - ainda estava no terceiro pedaço da minha, e pensei que a historia não iria sair hoje também. Haja "waffles"!
-Sasson, una más! - pede Antônio.
-Igual?
-Como pode ser?
-Com ovos mexidos e champignon, que tal?
-Maravilha!
-Sim. Mas depois você vai contar a historia, certo! - completo.
-Sí, claro, como no! - volta a entrar na cozinha para o preparo da nova "waffles"!
Voltamos ao nosso "papo", pedi, então, para que me contasse a história, mas disse que não sabia bem, que aguardasse a versão do Sasson quando trouxesse a "waffle" de champignon, pois estava curioso também.
Chega a terceira "waffles", não tão boa como a primeira para o meu gosto. Antônio achou deliciosa. Sasson agora se acalmou e sentou-se à mesa conosco.
-Sasson, senta que lá vem a historia! - brinquei com ele
-Sí, contaré!
Começou então a bendita historia tanto aguardada: que veio do Uruguai em meados dos anos 70, sempre nadara lá no mar de agua fria, e estava na borda da piscina do nosso clube olhando Antônio brincando com uma bola amarela de polo aquático dentro dela. Antônio notou o seu interesse e lhe perguntou se queria jogar com ele. Aceitou, pulou na agua e começou a "bater bola", é canhoto, demonstrando habilidade que impressionou a Antônio!
-Você nunca jogou polo aquático?
-Não!
-Tem muito jeito e é canhoto, melhor ainda. Vem amanhã falar com o nosso treinador, o Zabo, para começar a treinar, vai se dar bem.
-OK.
Dia seguinte foi ao treino e pediu ao técnico, húngaro de origem, que queria treinar. Ele respondeu com a sua tradicional delicadeza e jeito que já conhecíamos, dizendo-lhe de chofre:
-Pode cair agora na agua e nadar mil metros borboleta sem parar. Se aguentar, pode começar a treinar!
Caiu e nadou! Começou a jogar por causa do convite do Antônio, tornando-se um ótimo jogador e apaixonado pelo esporte. E foi assim que nos conhecemos e amigos até hoje. Os "waffles" são bons também. Ele continua habilidoso. É canhoto!
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