"A caçada e o tapete"

10/12/2019

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Aconteceu em um final de semana, durante um almoço de fim de ano, na casa da família de um amigo de mais de 30 anos. Estavam sua filha e o namorado; um tio da sua mulher e a esposa; um sobrinho, a esposa e a filha pequenina que eu não conhecia. Uma graça, a menina! E sua esposa, a dona da casa, claro.

Seria servido bacalhau assado coberto com purê de batatas. O prato era muito bom e eu já provara - uma receita da irmã dele.

Antes do almoço, enquanto conversávamos na sala, um falatório geral, eu quis saber do sobrinho sobre a história da caçada de faisões, no Goiás, que virou folclore na família. Eu não conhecia a versão oficial e ele a havia presenciado. Sentado ao lado do meu amigo Hugo, dono da casa e caçador, eu perguntei:

-Então Lúcio, conta a famosa caçada dos faisões?

-Ah, pois é. Foi cômico! Eles, o tio Hugo e mais outros, compraram pintinhos de faisão, uns vinte, criaram até ficarem grandes e levaram lá pra Goiás, em gaiolas, para serem soltos e eles poderem caçar os bichos. Ah, tinha também nessa história, os cachorros acostumados em apontar e levantar codornas.

-Pois é, e gastamos um dinheirão! - diz Hugo como bom mineiro que é. Lúcio continuou:

-Então chegou o dia da caçada, eles se vestiram e se armaram como o "Rambo"- parecia que iam pra guerra. Levaram as gaiolas e os cachorros para o campo da fazenda e abriram as portinholas. Os bichos ficaram parados, estáticos, não querendo sair, parecendo saber que iam para o abate!

- Foi mesmo. E os cachorros, ainda presos, latiam, mas mesmo assim os danados nada de sair! - completa Hugo, enquanto nós, gargalhávamos.

- Eles deram tiros "pro" alto para assustar os bichos, que devagar, começaram a sair das gaiolas e a voar desnorteados - segue Lúcio.

- Os cachorros começaram a correr atrás deles e nós a atirar. Só que os faisões voaram alto e longe, e os cães, acostumados com as codornas, que voam curto e baixo, perderam o cheiro dos bichos. Ficaram perdidinhos! - completa Hugo.

Nós acompanhávamos o enredo realmente hilário. Histórias de caçador!

-Os bichos voaram para a mata. Os cachorros ficaram sem saber para onde ir. E os "Rambos" só conseguiram matar um, que nem sinal de bala tinha, deve ter morrido de susto. Foi a caçada mais rápida e engraçada que eu já vi! Um monte de faisão voando pra todos os lados, os cachorros perdidos e os caçadores dando tiro em todas as direções. Cenas de cinema mudo! - brinca Lúcio com um sorriso aberto e alegre como o de todos.

-Pois é, ficamos quase um ano programando esse evento, criando os bichos e só pegamos um deles. Perdemos todos, sem falar no dinheiro gasto! A risada foi de todos e do Hugo também, um pouco sem jeito!

Então, Lúcio vira-se pra mim e diz de forma direta:

-Mas a história que eu nunca me esqueço, é aquela em que você dormiu debaixo do tapete! - e todos me olharam questionando como quem diz: "Como?"

-Caramba, até você sabe dela? - respondo meio sem graça, pois fui pego de supetão pela inesperada pergunta. Hugo me olhava com ar de gozação, pois sabia do fato! Agora seria eu o personagem da comédia. Lúcio continua:

-Sim, me lembro! Você estava "breaco" na casa de um amigo e depois do almoço ficou com sono e deitou-se sobre o tapete da sala da casa. Aí, ficou com frio e entrou por debaixo dele e dormiu a sono solto! - Todos acompanhando atentamente, alguns com olhares de risonha incredulidade!

-Pois é! Que vexame não? E o pior é que tempos depois, em outro encontro na casa desse amigo, em um jantar de aniversário, conversava com um pessoal conhecido e um deles me fala: -"Vai dormir debaixo do tapete hoje?" Eu não acreditei que tinha feito isso, não me lembrava. -"Eu fiz isso? " - "Sim, e não se lembra, mas todos nós lembramos, foi muito engraçado ver o seu sono de babar como um bebê coberto pelo tapete! " Gargalhou, a plateia e eu junto! Acontecera, era inegável!

-Essa é melhor que a da caçada! - completa Hugo tentando minimizar a sua peripécia.

Demos boas risadas sobre as histórias, que tanto para mim como para ele, foram constrangedoras, mas engraçadas e inusitadas de qualquer forma.

Histórias são histórias, de caçador ou não, são elas que ficam...

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 28/09/2020
Código do texto: T7074394
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