“Detesto Pombas!”
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Detesto as pombas!
Encontrei-as na minha casa em Florianópolis, empoleiradas nos beirais do chalé ao lado do meu. Nunca gostei deste pássaro e não sei por que representam a paz! Sempre que as vejo sob esse símbolo, lembro-me desse meu desgosto, apesar de Picasso tê-las eternizado como tal em suas pinturas.
Então, iniciei uma cruzada contra elas! Vigiava-as e quando estavam sentadas nestes locais altos, pegava um torrão de terra e atirava para espantá-las. Às vezes, quase as acertava, mas voavam e voltavam. Bicho danado!
- Para de jogar pedras nas pombas, Fernandinho, vai acertar os vizinhos! - fala minha mulher.
- Nada! As pedras são torrões de terra e desmancham quando batem. Não machucam ninguém! Vou comprar um estilingue e acerto todas elas!
- Eita, guri, que coisa de moleque! Vai quebrar as vidraças dos vizinhos e os vidros dos carros também, Fernandinho! - diz ela brincando.
-Vou. Detesto pombas!
Na ultima sexta-feira 13 (não sou supersticioso, mas...) vejo uma delas sentadinha tranquila no abrigo da estrutura da caixa d'água.
-Vai ser agora que acerto essa danada! - penso.
Saio para o jardim e a ave me olha sem nenhuma preocupação ou incômodo. Acho um torrão de terra seco no chão e arremesso. Ela voa sem pressa para o beiral do meu telhado, mais alto ainda, irritando-me. Levanta o pescoço e me encara com desfaçatez, desdenhando da minha pontaria!
- Ah é sua danada, vai ver agora!
Procuro outro torrão, um bem maior, viro, inclino o corpo para trás, faço pontaria e lanço o petardo. Acerto abaixo dela que voa calmamente indo para outro telhado, longe, fora do meu alcance. Mas, ao inclinar o corpo para atirar com força, perdi o equilíbrio e caí de costas sobre a horta da minha mulher, apesar dos dois passos para trás que dei na tentativa de me estabilizar. Estava de bermudas, sem camisa e descalço, por isso ralei-me todo ao ficar despencado no chão e encalacrado entre o depósito e a proteção dos canteiros. Cômico!
Minha mulher assistiu a toda cena e ficou preocupada com o tombo, mas não tive como conter o riso:
-Pomba filha da mãe! Derrubou o "véi"! - digo para ela gargalhando.
-Viu no que deu, deixa elas em paz! Você está bem?
Ela me ajuda a levantar. Eu estava com arranhões pelo corpo, lembrando-me da época de moleque de rua que fui, quando voltava para casa todo ralado e minha mãe passava o temido "Mertiolate", que causava um ardido forte, de até chorar.
-Vou comprar um estilingue e acabar com elas! Vou sim! Detesto essas malditas!
-Tá Fernandinho, vamos desinfetar isso antes.
Entramos na cozinha, pego o vinagre e passo nos ferimentos, pois não tinha o "Mertiolate" que agora não arde mais. Foi muito ardido mesmo desinfetar dessa forma, como nos tempos de menino e ainda fiquei temperado como salada!
-Virão depois mais dores pelo corpo, porque você bateu as costas e a cabeça também - comenta minha mulher.
-Pois é, foi uma fração de segundos, joguei a pedra e me vi no chão! Vou comprar o estilingue, pode escrever!
À noite, parecia que tinha tomado uma surra, corpo todo dolorido, os arranhões ardendo e incomodando. Foi difícil dormir e ainda fiquei com as pombas vagueando por minha imaginação!
-Ah, amanhã vou comprar sem falta o estilingue e acabar com essas "filhas da mãe". Assim, ruminava eu a revanche, enquanto minha mulher, ao meu lado, dormia como um bebê, despreocupada e plácida.
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