“Ó dia, Ó vida!”
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Programei a volta para minha casa, em Florianópolis, para uma quarta-feira. Fiz todos os preparos e arranjos, previamente. Mala de roupas e de trecos que coloquei no carro já na terça. Fiz também, "sandubas", cozinhei ovos e os descasquei para levá-los, enfim, uma enorme matula para me alimentar durante a viagem, já que paro somente para abastecer e ir ao banheiro. Estava pronto.
Dia seguinte, cinco horas da manhã, pego o resto das coisas e pé na estrada. Chovera bem de noite e amanhecera nublado, agradável para uma longa viagem de 800 km, prevendo percorrê-los em dez horas.
São Paulo, logo cedo, tinha o trânsito fácil e fluido.
Depois de duas horas pela BR 116, a viagem seguia tranquila, havia passado a serra, cuja descida é sempre vagarosa pela quantidade de caminhões que trafegam por ela. Estava animado, pois se continuasse nesse ritmo, a volta "pra" casa seria ótima.
E assim foi, mesmo com o aumento do volume dos caminhões, que iniciam suas viagens logo cedo, saindo várias carretas de cada posto. Hoje, elas andam muito, nos acompanham e mantêm a velocidade, inclusive nas subidas, e eu, no meu Clio 1.0, 2001 carregado, tinha que me preocupar com esses bólidos pesadíssimos encostando-se à minha traseira. Corrida Maluca!
No caminho passei por duas carretas tombadas, mas esses eventos não me alertaram sobre a possibilidade de virem a parar o trânsito. Há uma rota alternativa para Joinville, que passa por uma estrada pitoresca, várias cidadezinhas na Serra, tais como Piên, São Bento do Sul, descendo pela serra Dona Francisca. É um caminho muito bonito, sinuoso, em que ainda se vê toda a exuberância da Serra do Mar, nativa e fechada. Conhecia-a, pois morei em Camboriú e trabalhava em Curitiba, indo por ela algumas vezes. Mas, como a viagem corria como programado, não optei por este caminho. Segui em frente no qual já estava, BR 116.Não consultei o Wase....
Chego ao pedágio no início da descida da serra, passo a cancela automática e encontro a minha frente o trânsito completamente parado e penso:
- "Caramba, o que aconteceu? "
Olho aquela bagunça de carros, caminhões e ônibus; espero um tempo, mas nada de deslocamento; desligo o motor e saio do carro esperançoso que logo se desfaça o engarrafamento. Vou até a defensa de concreto, a divisória das faixas de ida e descida da estrada. Outras pessoas descem e dois rapazes se aproximam. São de uma empresa que faz linha de transmissão de energia. Vem também um carreteiro que está em um "mercedão" carregado de tubos de concreto.
-Foi uma carreta com contêiner que tombou hoje cedo, vi no noticiário da TV antes de sair de casa! - fala um dos moços da empresa de engenharia.
-Mas deveriam ter avisado do acidente nos painéis na estrada, eu não vi nada! - replica o carreteiro.
-Pois é! Pra variar, sempre tem carreta tombando. Vindo de São Paulo, vi duas. - falo.
Estava agitado e resolvi descer caminhando para ver ou saber o que acontecera e qual a distância em que estávamos do acidente. Vou por entre os veículos, até que vejo um guincho de resgate da concessionária parado. Chego e pergunto ao motorista sentado dentro do veículo:
-Bom dia, tudo bem, o que aconteceu?
-Bom dia, tombou uma carreta a uns vinte e seis quilômetros à frente, mas já liberaram o tráfego.
-Caramba, vinte seis quilômetros! Vai demorar mais de hora para sair daqui!
-Pois é, pode ser menos, mas no mínimo uns quarenta minutos.
-Grato.
-De nada.
Volto para o meu carro, encontrando-me com o pessoal e passo a notícia.
-Vinte e seis Quilômetros! - fala o carreteiro
-Devia ter ido por Tijucas, na entrada antes do pedágio. Já estaria lá em Curitiba. - diz o da engenharia
-Pois é, quase fui por São Bento do Sul. Por que não vi no Wase? - lamento também.
Esperamos por mais meia hora e o fluxo começou a andar lentamente. Todos correram para os seus veículos. Mas logo para novamente e vejo os da empresa de engenharia parados à minha frente, na faixa da direita, pois havia placa de acesso a Tijucas! Minha fila anda um pouco mais, emparelho e buzino.
-Vão por Tijucas?
-Sim!
-Vou arriscar também.
Consigo entrar à direita, sigo pelo acostamento até a alça de acesso e a pego. A estrada está livre! Ótimo!
O trânsito fluía, apesar das inúmeras lombadas e caminhões que causavam lentidão, mas a viagem iria demorar mais que o esperado, era certo, pelo aumento da distancia.
O caminho era muito agradável com a visão das casas de madeira características, dos pastos verdejantes, das plantações de fumo e soja e muitas, mas muitas hortênsias floridas na beira da via. Aproveitei a paisagem, mas a descida foi lenta e cheguei à Joinville perto das quatorze horas!
Agora faltavam 200 km até Floripa. Estava quase em casa. O cansaço começou a bater, pois meu carro não tem ar, ou melhor, está quebrado e viajo com os vidros abertos no calor de trinta graus. E o zunido dos sons dos motores dos carros e do vento estavam me deixando meio zonzo. Sem falar na idade!
Vejo, então, à frente o trânsito novamente parado e digo:
-"Não acredito, engarrafamento de novo?".
Lembro-me do "Hardy"- a hiena pessimista de um desenho - que dizia: "ó dia, ó vida!". Foi o que passou pela minha cabeça naquele momento!
Agora o engarrafamento havia sido causado pela curiosidade das pessoas, que passavam devagar por uma ambulância de resgate parada no acostamento, como constatei cruzando por ela.
Entro em Florianópolis às 17:30h e teria ainda que percorrer os 40 km até a praia do Santinho, no norte da ilha. Pelo horário, pegaria com certeza, o trânsito pesado da saída das pessoas do trabalho.
Cheguei a minha casa depois de cerca de treze horas de estrada! Essa volta foi uma das piores que já fiz. Morto de cansado, mas vivo! "Ó dia, Ó vida!"