"Um Homem Inteligente!"
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Decidimos retornar à Florianópolis no dia de Natal, levando as últimas tralhas da mudança, pois alugara meu apartamento e o liberaria dois dias depois. E para que a viagem não fosse cansativa resolvemos pernoitar em algum lugar, seguindo somente no dia seguinte ao nosso destino.
Minha mulher queria conhecer São Bento do Sul, na serra catarinense, por isso procurei um local ali. Encontrei um chalé rústico, todo estruturado com toras de madeira e paredes de tábua, localizado no meio da mata nativa da Serra do Mar. "Rancho do Lucas" era o seu nome. Gostei!
As fotos mostravam o quarto do casal e um amplo salão com cozinha, grelha de fogo de chão, mesa enorme, sofá, TV, enfim, as instalações do rancho eram grandes e interessantes. Deduzi que nestes locais seria servido o café da manhã.
Saímos de São Paulo lá pelas nove horas daquela ensolarada, mas fresca manhã. A cidade estava deserta e a estrada com poucos carros e quase nenhum caminhão, para nosso alívio, pois, da última vez em que fiz o mesmo trajeto demorei mais de treze horas por causa dos acidentes e engarrafamentos causados por eles.
Nossa previsão de chegada ao Rancho do Lucas era pelo meio da tarde, depois das quinze horas e estávamos dentro do cronograma. A viagem seguia tranquila e calma.
No horário previsto e com a ajuda do "Wase", subimos a rampa de acesso até a casa. A estradinha era ladeada por hortênsias floridíssimas e enormes araucárias que faziam sombras aconchegantes e frescas, terminando em um enorme caramanchão no alto de um platô. Não tínhamos certeza se era ali. Descemos do carro e na casa ao lado havia dois casais almoçando em uma mesa na varanda.
-Boa tarde! É aqui o Rancho do Lucas? perguntei.
-Sim, é aqui! Vou até aí para mostrar as acomodações. - responde um senhor de rosto redondo e simpático.
Ele vem com sua mulher e lhe pergunto:
-Onde é o chalé?
-É esse aqui! - diz sorrindo e apontando para o galpão fechado de madeira.
Ele abre as portas em duas folhas enormes e vemos as instalações mostradas nas fotos do site, as quais eu havia deduzido serem comuns a todos os hóspedes, mas faziam parte dele. Não acreditei.
- Caramba! É tudo isso?
- Ehehe, sim tudo isso!
- Não imaginava. Pelas fotos deduzi que seriam as instalações da pousada.
-Era o estábulo dos cavalos. Agora, como estou com o joelho ruim, tive que vendê-los. Resolvi então reformar o local para fazer os encontros e as festas com os amigos e a família, até que meu filho sugeriu que alugasse para terceiros - responde.
Ele era falante, sociável assim como sua pequenina mulher, tinha quase a minha altura, 1,80m, forte e pesado; ela 1,60m, no máximo, mas muito simpática sorridente e meiga. Adoráveis! A nossa conexão foi imediata, pois também somos comunicativos - deu "liga"!
Estávamos exaustos da viagem, mas em função do jantar de natal na noite anterior, dormíramos pouco também. Fomos então deitar e descansamos até quase às 18:00h! O sono foi reparador e gostoso com os barulhos do farfalhar dos galhos das araucárias e o canto dos pássaros.
Descemos do quarto com a intenção de irmos passear pela cidade. O centro era perto e podíamos ir a pé, segundo o casal nos dissera.
Saímos do galpão e vimos ele e sua mulher, de apelido "Piti", sentados à mesa na varanda da casa principal. Vieram em nossa direção e perguntaram se descansáramos bem.
Começamos uma longa conversa, ele contando que quando tinha ainda os cavalos, fazia passeios de dias pela região com um grupo de cavaleiros, levando as tralhas para cozinhar; que caçava perdizes na Argentina; que era treinador de "pointer"- uma raça típica de cães de caça e que tem uma cadela maravilhosa que é fulminante no apontamento e assim foi de assunto em assunto. Em dado momento, estávamos entrando em situações cômicas, quando diz:
- Você sabe por que um homem inteligente casa com mulher pequena? Quanto menor a mulher, mais inteligente o homem - diz, olhando para a sua, que abre um largo sorriso, sabedora da piada. Encaro a minha, quase do meu tamanho, que me olha também risonha e curiosa para saber o que viria:
-Não sei. Por quê?
- Porque dos males, o menor!
Gargalhei e minha mulher ria também:
-Então, eu estou ferrado. Olha só o tamanhão dos meus males! - digo olhando-a.
- Fernandinho, eu sou só solução! - responde.
Fomos caminhar pela cidade, que estava praticamente deserta e com o comércio fechado, porque era 25 de dezembro. Mas é muito limpa e organizada, tipicamente alemã, com casas em terrenos grandes, gramados e floridos, algumas iluminadas com a decoração natalina - uma belezinha de cidade!
Na manhã seguinte Lucas vem nos dar bom dia e lhe pergunto se teria café da manhã, disse que não fazia parte da estadia, mas como tudo estava fechado com muito prazer faria um colonial da serra para nós. Foi delicioso, com pão e geleia de pêssegos feitos pela Piti e uma gelatina de porco da sua cabeça cozinhada por inteiro até desmanchar, "Zellsse" é o nome em alemão. Uma delícia! Ficamos sentados na mesa conversando e estreitando nossa amizade por algumas horas, e como gostamos do "Zellsse", nos disse que tinha um açougue que fazia a gelatina, fomos então com eles dar um passeio pela cidade e comprar os derivados de "porco".
Infelizmente não tinha "Zellsse", acabara, mas compramos vários embutidos, salame de carne bovina, salsichas, linguiças defumadas., tudo bem "deutsch"!
Tínhamos ainda que fazer duzentos e cinquenta quilômetros até Florianópolis, despedimo-nos com vontade de ficar mais, mas combinando de voltar em breve, assim como eles de irem nos visitar.
Muito queridos Lucas e Piti. Lucas é um homem inteligente!
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