A Primeira “Cola” Nunca Se Esquece!
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A primeira "cola" nunca se esquece, não é mesmo?
Fora ótimo aluno nos primeiros anos da escola primária em que estudei por mais de treze anos no Colégio Rio Branco, lembro-me bem. Era estudioso, gostava das aulas e das professoras. O terceiro ano primário foi o melhor, principalmente pela Dona Rafaela, inesquecível. Era querida, tranquila, ensinava-nos como se fosse a nossa mãe e sentia que ela tinha uma "quedinha" por mim, pelo jeito diferenciado com que me tratava. Era muito querida mesmo.
Depois, no quarto ano, comecei a mudar minha maneira de ser. Talvez fosse pelo início da adolescência, por me sentir mais liberto e encarar as convenções de comportamento de forma mais contestatória. Transformei-me em um brincalhão, gostava de conversar, dar risadas, contar piadas, mas as notas começaram a piorar. Naquela época, pulava-se o quinto ano primário, indo do quarto direto para a primeira série Ginasial, era o que a maioria fazia, chamava-se "Admissão" o exame . Eu não fiz, segui pelo quinto ano aprimorando o modo de me tornar um aluno vagabundo. Meu pai falava: "não importa como vá durante o ano, passar é o que interessa! "
Quando ascendi ao ginásio, consolidei-me: passava mais tempo jogando bola na quadra da escola do que nas aulas e acabei ficando, pela primeira vez, de segunda época em uma matéria, para horror dos meus pais.
Tínhamos um professor de História Geral de sobrenome Thomé, que nunca esqueci. Dava-nos aulas de forma peculiar. Sentava-se à mesa e começava a discorrer sobre assuntos como Egito, Mesopotâmia, Grécia, falando baixo e monocórdicamente. Não conseguíamos acompanhar de tanto sono que nos causava. Era uma pessoa robusta e redonda, de cintura larga e cabelos pretos cortados à moda militar, trajava sempre terno e gravata e um grande e pesado óculos de grau. Era também um fumante inveterado! Sim, naquela época, os professores podiam fumar na classe e quando andava por ela, o seu forte sarro o acompanhava.
Outra característica e peculiaridade sua é que fora pracinha na 2ª. Guerra Mundial e se exasperava, ficando nervoso e agitado a qualquer explosão que acontecesse. Nós, sabedores deste seu trauma, comprávamos bombinhas, ou melhor, bombas e as explodíamos no banheiro só para deixá-lo nervoso.
Então, chegou o dia da sua prova e eu não estudara muito. A bola não deixara! Coloquei o livro embaixo da carteira para abrir e copiar as questões que não soubesse. Aguardei a distribuição das folhas, estava nervoso, mas confiante, pois achava que ele não me pegaria "colando".
Comecei a fazer as questões que sabia, mas eram poucas. A prova estava difícil e teria que arrumar um jeito de abrir o livro. Ele se mantinha sentado e fumando, nos observando com seus olhinhos perdidos nos óculos de lentes "fundo de garrafa". Eu, quase deitado sobre a prova, puxei o livro e o coloquei aberto sobre as minhas pernas de forma que pudesse folheá-lo com a mão esquerda e escrever com a direita. Após responder algumas perguntas, ele se levantou e veio diretamente em minha direção, não dando tempo de fechar o livro, somente de o recolocar embaixo da carteira. Comecei a tremer!
- Levante-se! - diz autoritário com seu corpanzil imponente e seu forte odor de fumante.
A classe toda calada e estática acompanhando a minha situação. O silêncio é sepulcral. Fiquei atônito, mudo, em estado de choque e em pé ao lado da minha carteira, pensei: "Me pegou! "
-Ah, então está com o livro aberto? "Colando", hein! - diz, pegando o meu livro e a minha prova.
-Venha comigo a minha mesa! - encaminhando-se à ela.
Senta, começa a comentar as questões, corrigindo-as com uma caneta vermelha e com um cigarro acesso entre os dedos.
- Vamos ver! Ah, essa aqui você respondeu certa; essa está mais ou menos; essa, então, está igualzinha ao texto do livro, como essa outra! Pois é, não estudou, por isso está colando, não é seu malandrinho? Pensou que me enganaria, é? Sabe, dou aulas há mais de dez anos e nunca fui enganado. Aliás, você colou de forma amadora, como todos fazem, achando que eu fosse bobo, certo?
Permaneci calado, não tinha nada a dizer, só arrependido pela atitude infantil, estúpida e presunçosa que tive!
Era a minha primeira "cola" e me dei mal! Tirei nota zero, fiquei em segunda época, mas passei.
A primeira "cola" nunca se esquece, não é mesmo!
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