"Fragatas"

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Em um dia nublado, caminhávamos pelas dunas em direção a uma praia de enseada, próxima a nossa, em que os pescadores ancoram seus barcos ao abrigo das intempéries. Do quadrante sul vinha um vento forte, que balançava fortemente as embarcações, formava ondas de um cinza chumbo e de frontes brancas e espumosas que quebravam na praia. Um dia de beleza diferente!

A estrada na duna, pela qual andávamos, terminava na extremidade mais abrigada da baía, local em que há vários "ranchos" de pesca em madeira envelhecida pela exposição ao sol, ao vento e a chuva. Há também redes estendidas para secar ou serem reparadas pelos pescadores dali - os "manezinhos" - que fazem o trabalho comunitário em conversa animada com o sotaque nativo característico do ilhéu. Nada se entende de sua fala rápida!

-Olha quantas gaivotas boiando no mar! - observa minha mulher, apontando para o final da praia, local em que havia um enorme grupo de pássaros.

Íamos nessa direção, quando, sob nossas cabeças, um bando de gaivotas e fragatas se digladiavam no ar para abocanhar restos de peixes que os pescadores jogavam na orla para eles comerem. Um belo espetáculo de maestria de voo das aves. Sensacional!

Nunca vira antes uma cena como essa, pois as fragatas sempre voam alto e na maioria das vezes planam majestosamente com as asas longas abertas, demostrando sua habilidade espantosa de se manterem por horas a fio no alto sem quase bater as asas.

-Veja que interessante, as fragatas estão brigando com as gaivotas pela comida. Não tinha visto algo assim antes! - comento.

Ao mesmo tempo, junto às gaivotas no mar, patos bravos nadavam com elas, em menor número, mas também em busca de sobras de peixe. Era a interatividade entre as espécies e a lei da sobrevivência, ali na nossa frente.

Fiquei parado observando e para meu espanto as fragatas roubavam os restos de peixes abocanhados pelas gaivotas. Vinham em bando de três, quatro sobre a que tinha no bico a comida e a encurralavam no ar, fazendo com que não tivesse outra opção a não ser deixar cair no mar o alimento. Uma das fragatas então o pegava, mas era perseguida da mesma forma pelas demais, como pelas gaivotas. Cenas de beleza selvagem, agressiva e bruta.

Acho as fragatas interessantes e adoro ver seu voo imponente, nas alturas, como observadoras superiores do que acontece. Mas essa faceta de ladras, não conhecia. Sei que elas nunca pousam em árvores ou descem à praia ou ao mar.

Quis saber mais sobre elas, fui pesquisar e descobri que o macho é negro com o papo vermelho que se infla durante o acasalamento. A fêmea é negra com o peito branco. Conseguem permanecer no ar por mais de uma semana utilizando as correntes ascensionais de ar quente, como os urubus, seus companheiros frequentes no céu, aterrissando apenas para fins de poleiro ou procriação. Montam seus ninhos no alto das rochas e copa das árvores em ilhas oceânicas.

Aqui, é provável que façam os ninhos nos rochedos dos dois costões nas extremidades da nossa praia. Há algumas ilhas próximas e visíveis, que podem ser seu habitat também.

Utilizam sua excelente capacidade de voar para pegar comida. São capazes de capturar lulas, águas-vivas e peixes voadores em voos rasantes. Já presenciei elas planando junto às ondas e aos surfistas nessa captura, mas não mergulham ou flutuam na água, pois, suas penas não são impermeáveis como a das gaivotas. Também, comem aves marinhas jovens, como andorinhas-do-mar.

Outra característica interessante e peculiar dessas aves é que existe a tradição de se prever chuva em virtude do seu voo mais baixo. Tendem a descer das grandes altitudes quando os temporais se aproximam, dizem os pescadores.

Achei interessantíssimo e agora as observo mais fascinado ainda, em sua leveza, planando nas alturas.

São belas as fragatas!

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 24/09/2020
Código do texto: T7071008
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