"Caminho Suave"
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Estávamos em reunião na residência que reformávamos no bairro do Sumaré. Éramos eu, o engenheiro da obra; meu filho e seu sócio, arquitetos responsáveis pelo escritório que fez o projeto e com quem eu trabalhava e os proprietários: o marido advogado e a sua esposa, que cuidava da construção e as duas filhas pequenas. Hospitaleiros, estávamos à mesa pela manhã, com café e bolo de cenoura. São mineiros, e adoram um "cafézin" com bolo para puxar "cunversa", como eles dizem.
As meninas atentas acompanhavam a tudo. Tinham entre 8 anos, a menor, e 10 a maior, as duas de cabelos vermelhos, sardas nas faces e muito espertas. A menor, mais tímida, contida e observadora; a maior, mais desinibida, participava dos assuntos sem qualquer cerimônia.
Estava ela, a menor, sentada ao meu lado fazendo a lição de casa, quando um livro junto à suas coisas da escola, chamou a minha atenção. Espantei-me ao vê-lo e disse:
- Caminho Suave? Não acredito? Usei para me alfabetizar - exclamei com todos. As meninas me olharam com curiosidade, e a menor perguntou:
- Você usou esse livro?
-Sim usei, aprendi a ler e escrever com ele! - respondo.
-Eu também. Mas não uso mais , só de vez em quando, quando esqueço alguma coisa!
-E você gosta dele? - pergunto.
-Gosto! É legal, cheio de figurinhas e letras.
-Nunca imaginaria que ainda fosse usado para a alfabetização, pois é muito antigo. Incrível!
Pego o exemplar, começo a folheá-lo, percebo que as figuras são mais atualizadas, é claro, mas o método é o mesmo. Olho no verso da capa as especificações da edição, e a 1ª. é de 1930 com 90 anos de idade! Como pôde perdurar por tanto tempo! Como ainda utilizam esse método, até certo ponto, ultrapassado, ainda mais agora que temos tudo, sim tudo, na internet?
Como fiquei curioso, quis saber mais sobre este lendário livro, o meu 1º. Livro, e procurei na internet as informações, obtendo que a sua autora o criou observando a dificuldade de seus alunos, a maioria oriundos da zona rural, tinham em aprender o alfabeto, decidindo criar esse método de alfabetização pela imagem.
É um método simples e fácil, que marcou a infância de milhões de crianças brasileiras, como eu. Desde a década de 1950 não surgiu nenhum outro que o substituísse. Ainda hoje, vendem-se anualmente cerca de 10.000 exemplares em todo o Brasil. Mais de 40 milhões de brasileiros foram alfabetizados por ele. Marca impressionante!
As boas ideias e métodos prevalecem, não importa de qual época sejam.
Não fosse ele, não escreveria hoje esse texto. Obrigado "Caminho Suave".
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