Mocinho

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Foram almoçar em um restaurante perto da sua casa, onde se comia uma bela chuleta na tábua com acompanhamentos. O famoso bom, bastante e barato.

O local era em um amplo caramanchão de madeira, com as mesas separadas pela exigência de prevenção da pandemia. Escolheram uma mesa perto da entrada, mais iluminada e sem ninguém sentado nas que estavam liberadas ao redor.

Estava faminto e de mau humor por isso, fazendo de imediato o pedido ao garçom do prato bom, farto e barato que já conheciam.

Aguardaram quietos e logo o garçom trouxe os acompanhamentos: maionese de batatas, farofa, molho vinagrete e salada de alface, tomate e cenoura junto com uma bandeja de pão - era à vontade. A carne demoraria mais um pouco.

Serviu-se ávido da maionese e a esposa da salada, iniciando o seu almoço enquanto a carne não chegava. Comiam quietos e compenetrados.

A carne chegou e estava um pouco malpassada, do jeito que ele gostava, mas ela não. Cortou um pedaço sangrento e pediu para assar novamente o resto. Seguiram se alimentando. Retornou a chuleta mais assada para ela e saciaram a sua fome, voltando neles o bom humor. Estavam satisfeitos.

Recolocou a máscara e foi até o caixa pagar a conta. Ao chegar, veio ao mesmo tempo, perto e sem máscara, uma senhora de meia idade, talvez na casa dos seus quarenta e cinco anos, baixa, cabelos armados e arredondados, quase se encostando.

Olhou-a com espanto, dizendo com seus olhos que respeitasse a distância. Ela percebeu e lhe disse:

-Ah, me desculpe, temos que respeitar o distanciamento social, principalmente pelo senhor, não é mesmo?

Ele respondeu de forma firme e direta:

- Para todos nós, minha senhora!

A mulher desmascarada se distanciou, ele pagou a conta voltando para a sua mesa balançando a cabeça.

- Que foi querido? - perguntou a esposa.

- Uma mulher sem máscara chegou bem perto de mim para pagar a conta e me chamou de velho.

- Ah é? O que ela disse?

- "Que ela tinha que respeitar o distanciamento social, principalmente por mim, ou melhor, pelo senhor".

A esposa começou a rir e complementou:

- E o que você acha que é? Mocinho?

E se foram embora alegres e satisfeitos.

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 23/09/2020
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