“Comer de Colherzinha”
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Tenho uma prima, mais ou menos da minha idade, com a qual não mantinha contato há mais de 20 anos. É filha do irmão mais moço de meu pai. Tem um nome raro e bonito: Cora! Para a família virou "Corinha", assim como eu, "Fernandinho".
Obtive o seu número de telefone através de minha irmã, que foi convidada junto com ela para a festa de 70 anos de outro primo. Eu não, pois tinha pouco contato e afinidade com ele. Coisas de família!
Queria voltar a se relacionar com ela e sua família, pois na época em que tinha construtora era festeiro, fazia churrascos de domingo na casa em que morava no Pacaembu e vinham com frequência a esses eventos. Encontrávamo-nos muito naquela época, mas separei e nossas vidas seguiram caminhos diferentes. Também a morte de meu pai e dos seus pais, meus tios, enfraqueceu o nosso convívio familiar.
Enviei-lhe uma mensagem para saber como estavam e também para esclarecer uma história da qual me lembrava na época em que convivíamos nos almoços de domingo em nossas casas. Ela adorava arroz e o comia com colher de chá, de grão em grão, para que demorasse a acabar! Contei este fato para minha mulher, que não acreditou.
-Prima, queria saber também sobre aquela história de que você gostava tanto de arroz, que comia com colher de chá, grão por grão, para que pudesse durar mais tempo! - pergunto.
-Gosto de arroz. Mas o que adorava era a macarronada com molho de tomate que nossas mães faziam. Comia com colherzinha de chá o espaguete cortadinho, para que demorasse mais tempo para acabar, sim. Meu pai sabia dessa minha paixão, e por isso, só me deixava comer um prato de massa. Se não, me empanturrava tanto que passava mal!
-Ah, então é verdade, só que com macarronada!
-Sim!
-E ainda tem essa paixão pela pasta?
-Nem tanto, pois não tenho mais minha mãe para fazer o molho! Eu cozinho e tento fazer da mesma forma, mas não fica igual. Ela tinha um "toque", com o qual dava aquele sabor delicioso que só ela sabia como, igual a sua mãe, a tia Maria.
-Pois é, minha mãe está com noventa e seis anos e não cozinha mais. Também tenho saudades das suas massas e molho com "bracciolas". Continuam insuperáveis!
-Eu também! Lembro-me das várias vezes em que fui a sua casa para saborear a macarronada dela e é dali que você se lembra da colherzinha, mas confundiu com arroz.
Esta é a história da minha querida prima, com a qual agora retomei contato. Em breve deveremos nos reencontrar e colocar a conversa em dia, quem sabe degustando cada fato aos pedaços e em colherzinhas.
História típica de uma "famiglia italiana".
"Manja que fa benne", mas não de colherzinha!
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