Foi Você!

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Tive um trabalho de auditoria em engenharia junto à Petrobras, em que avaliava empresas do seu cadastro para verificar se eram qualificadas para as atividades que pleiteavam junto a ela. Era contratado por uma fundação que fornecia os auditores para essa atividade. Éramos uma equipe de quatro profissionais viajando pelo Brasil. Conheci quase todo ele e sua enorme diversidade de culturas, povos, comidas, costumes, arquitetura e paisagens. É maravilhoso!

Em uma dessas visitas fomos a uma empresa da cidade de São Carlos, no interior de São Paulo. Ela prestava serviços de pavimentação e terraplenagem. Um representante da Petrobras nos acompanhava, costumeiramente, e nessa ocasião era um jovem de seus vinte e poucos anos.

Íamos todos de van. Normalmente chegávamos às empresas pela manhã para fazermos a reunião inicial com os responsáveis. Nela, o plano de vistoria lhes era apresentado, esclarecendo: como o processo seria; os documentos a serem providenciados e as demais solicitações necessárias para que pudéssemos avaliá-la com a maior precisão possível.

Nessa empresa em questão, logo na reunião inicial, o engenheiro responsável pela área sentou-se a minha frente, nos entreolhamos e sentimos certa familiaridade. Ele seria meu parceiro nas análises documentais técnicas, porque eu era o avaliador respectivo. Fizemos as avaliações durante a manhã e nos reencontramos na sala de reuniões para fazer um balanço dos processos individuais e aguardar o pessoal da empresa para almoçar.

-Vamos almoçar? - nos convida ele à entrada da sala.

Fomos ao encontro do pessoal que nos esperava na saída do prédio em que estávamos. Meu parceiro da empresa começou a conversar comigo:

-Sabe que sua fisionomia não me é estranha? - pergunta.

-A sua também não. Onde estudou engenharia? Você é civil, não é?

-Civil, na FAAP.

-Eu também! Em que ano se formou?

-1978, e você?

-1979, estudamos juntos então?

O resto da equipe acompanhava a conversa atenta, pois era coincidência sermos contemporâneos da mesma escola e ano e não nos reconhecermos. O representante da Petrobras se manifestou:

-Puxa, que coincidência! E em todo esse tempo nunca se reencontraram?

Meu colega de faculdade me encara inquisidora, curiosa e atentamente para de repente, dizer estupefato:

- FOI VOCÊ!

A equipe e o nosso fiscal me olham com surpresa, riso e suspense. Eu, assustado!

- Foi você que acabou com o baile de calouros no Clube Pinheiros. Foi você que subiu no palco e começou a fazer strip tease na frente da Maria Creusa e do Toquinho. Eu estava lá. Agora lembrei. Sabia que te conhecia! - continuou.

- Como? Você acabou com um baile de calouros da faculdade? Não acredito! É verdade? - questiona o nosso fiscal, curioso para saber da história.

-Sim foi você, não foi? Eu te vi no palco! - confirma meu contemporãneo engenheiro.

-Sim, fui eu!

-Não acredito! Você fez isso de verdade, acabou com o baile? - pergunta o nosso líder.

- Vai ter que contar essa história todinha "pra" nós agora no almoço, com testemunha e tudo! "Tá" ferrado, ehehehe! Ela vai correr todo o nosso projeto! - completa o fiscal petroleiro, animadíssimo em ansioso para que eu a contasse.

Fiquei preocupado com a minha situação junto ao projeto, pois poderia perder minha credibilidade, já que auditores, e da Petrobras, devem ser inquestionáveis em relação a sua conduta pessoal e profissional.

O almoço transcorreu alegre e animado com a minha história. E na Van, durante o retorno à capital, o rapaz que nos fiscalizava me acalmou, dizendo que não afetaria em nada a minha credibilidade, pois acontecera há muito tempo.

-Mas, foi você mesmo, não foi ? Que história, hein! - concluiu ele rindo muito, assim como toda a equipe no carro.

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 17/09/2020
Código do texto: T7065352
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