"Fininho"

211

Tinha medo de acordar à noite no escuro. Ficava uma luz acessa no corredor entre os quartos com a minha porta semiaberta, iluminando brandamente o meu quarto, o que me acalmava. Tinha meus 4, 5 anos de meninice.

Mas, se despertasse no meio da noite, e a luz desligada pelos meus pais, ficava inquieto, assustado, com as assombrações rondando minha mente aterrorizada.

Lembro-me da "mula sem cabeça", que vinha de madrugada assustar quem não estivesse dormindo, ou que não fosse um bom menino! Achava muito estranho uma mula sem cabeça andando pela noite, pois como poderia ver o que acontecia. Era um fantasma, diziam os mais velhos para nos assustar. Mas, a noite todos os gatos são pardos, e na duvida, o medo imperava.

Descia da cama arrastando o travesseiro indo em direção à porta do quarto dos meus pais, com ele roncando como um urso, rompendo o silêncio noturno. Dormiam naquela época em camas separadas, sendo seu ronco um dos motivos.

Era impressionante.

No pé da porta:

-Mãe, mãeeee. - chamava-a bem baixinho, mas dando para ouvir.

-Sim querido, o que foi? Não consegue dormir? Vem deitar comigo. -respondendo sonolenta.

Ia até ela, deitada de lado, eu me aconchegava colocando meu braço por cima do seu ombro, com a minha mão aberta.

Para me ninar e acalmar, começava a acarinhar levemente a minha mão com seus dedos leves.

-"Mãe, você ta fazendo o carinho bem "fininho". Eu gosto muito!".

-É querido, e como é o grossinho?

-Ele é mais pesado e não me deixa arrepiado!

-Ah querido, vou continuar assim até você dormir, o bem "fininho", tá querido!

Assim dormia nas noites de medo e susto, com ela me embalando com o seu carinho "fininho". Saudades....

https://blog-do-cera.webnode.com/

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 16/09/2020
Código do texto: T7064521
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.