Mamãe Carvão e Carvãozinho

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- Esse gato safado vem fazer cocô na minha horta. Fernandinho, esse teu amiguinho está te usando para fazer daqui o seu banheiro. Olha só! - ralha minha mulher mostrando-me a sujeira dele.

- Você implicou com ele, né? E os cachorros que entram aqui ou os outros gatos? Não dá "pra" controlar. E é adubo! - replico.

-É dele sim! Depois que você virou amiguinho do danado, aumentou o volume. E sente só o cheiro. Horroroso!

O danado do gato continuava vindo à noite e o encontrava algumas vezes, coincidentemente, quando me levantava para ir ao banheiro. Curioso, abria a porta de correr para a varanda, e o via passeando pelo tablado, calmamente, como se fosse a sua casa. Uma vez, estava ele deitado no nosso banco forrado e o acordei, levantou a cabeça, olhou em minha direção e voltou ao seu sono, sem sequer se incomodar comigo. Gato sem-vergonha! É tição, negro como carvão. Adotara a nossa varanda como o seu dormitório. Carvão ficaria melhor como nome, e assim seria: Carvão!

- Eu não vou catar os cocôs dele! - continuava ela.

- Como você sabe que são dele?

- São dele sim, tenho certeza.

- OK!

Tive que ir à São Paulo e fiquei uma semana. Voltei e precisava ligar a minha moto para recarregar a bateria, pois ficara parada todo esse tempo.

Ela fica "no tempo", só de capa, no terreno meio gramado, meio com areia em frente a nossa varanda.

Peguei as chaves, abri o cabo de aço que coloco na roda dianteira e senti um cheiro forte e azedo de cocô. Estava insuportável. Procurei e encontrei junto à roda da frente, os montinhos característicos que os gatos fazem na areia.

- Caramba, que fedor! Danado do Carvão! Está marcando seu território bem aqui junto da minha moto. Safado! - pensei.

Fui buscar sacos plásticos para catar os dejetos "fulo da vida". Era bastante! Deve ter feito a semana toda!

Liguei a moto, dei uma volta curta e voltei para colocá-la no mesmo lugar. Desligo, reponho o cabo de aço de segurança e sinto novamente o mesmo cheiro.

- Rodeou a moto de cocô, o safado do Carvão. "Ele vai ver só"! Quando nos encontrarmos vou lhe dar um carreirão. Sem-vergonha!

Catei o resto do cocô. Minha mulher apareceu na sacada rindo e dizendo:

- "Tá" vendo só, Fernandinho! Você ainda acha que não é o do seu amiguinho? Ele marcou o território em volta do seu brinquedinho, hehehe.

- Safado do Carvão! - falo.

- Carvão? Já tem nome, é? - continua brincalhona.

Eu, de cara fechada, ranzinzando comigo sobre o sem-vergonha do Carvão, digo baixinho:

- "Vai ver só"!

Limpei tudo e dias se passaram até que em uma noite, como sempre, fui ao banheiro de madrugada e ao voltar para a cama escuto um miado.

- Será o sem-vergonha do Carvão? Ele vai ver só!

Abro a porta de correr e procuro por ele. Está ao lado do meu "brinquedinho". Ele me olha e com o seu passo leve vem em minha direção miando, sem imaginar a minha braveza. Então, do alto do poste da cerca, pula outro gato, negro como ele, mas maior e mais gordo.

- Caramba, virou mesmo banheiro de gatos aqui - resmungo comigo.

Eles se juntam e correm para fora do terreno, talvez por sentirem a minha ira. Sem-vergonhas! São dois. Parecem mãe e filho. Virou mesmo banheiro da família gato aqui!

Depois deste reencontro, fico alerta para ver e afugentar Mamãe Carvão e Carvãozinho, na madrugada. Safados!

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 14/09/2020
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